Dr. Estranho

[Letra de "Dr. Estranho" de Carpe Diem]

[VERSO 1]
Nina, esbelta, donzela, vulgo FAMA
Helena de Troia, a cara amarga desta trama
Aclamada pelos mortais, estranhamente venerada
Louvada, reverenciada e longamente cobiçada
Falaram-me dela e que eu a devia conhecer
Quiçá trocar impressões, que eu não tinha nada a perder
Vendo desta perspetiva eu acabei por ceder
Apresеntaram-me alguém que faria o resto acontеcer
Dia seguinte dirigi-me pra um edifício gigante
Mas tá tranquilo, tudo que eu enxergo são meus semelhantes
Literatos, poetas, entusiastas da arte
Apresentei-me como MC, preenchi a ficha e pus me à parte
Ao meu lado um velho devorava cigarros
Deu-me um, mas recusei, eu não fumo, muito obrigado
A seis metros tinha uma porta com um tom amarelado
E todo mundo que de lá vinha parecia-me deformado

[VERSO 2]
Nervosismo absurdo, espaço sua adrenalina
Putos e adultos ansiosos pra ver a Nina
Eu cá na expectativa pra ver se a coisa culmina
Aqui o calor é intenso e a fila nunca mais finda
Num átimo me espanto, ouço meu nome pelo alto
Acompanhando por uma senha: cobaia 1004
Mostrei-me preocupado e eles indicaram-me um quarto
"Muito prazer em ver-te, eu sou o Dr. Estranho"
Pessoa vivida, muito feia, olhos fundos, barba branca
Os pelos eram tantos que escapavam-lhes das mangas
Deu um sorriso mecânico e perguntou-me o que eu trazia
Abri a mochila e saquei um bloco de rimas
Examinou-lhe como uma obra prima para um rito
E perguntou-me "Quem te inspira? "Eu disse: NOCAS INFINITO
Não li nenhuma emoção, provavelmente não o conhecia
Deu um sinal para eu cuspir e eu avancei sem estresse

[VERSO 3]
Vomitei-lhe linhas várias de militância à farta
Conheceu o HIP-HOP da minha saliva putrefacta
Andando de quadra em quadra, cuspindo destemido
Até que de repente vi-me estranhamente interrompido
"Ouve, eu conheço o teu tipo não és o primeiro a vir aqui
Ainda há pouco falei disso, mas não me importo em repetir
Conheci tantos como tu, com o mesmo defeito na rima
Desse jeito, digo-te, não cais nas graças da Nina
Tens princípios cimentados larga-os que eu dou-te acessórios
O teu vocabulário, quase que destruiu-me o consultório
Mas não faças esse rosto, não tá tudo terminado
Certamente viste a porta lá de tom amarelado
É lá onde a mágica acontece, só precisamos de um tempinho
Tenho o material prontinho, sairás de lá novinho
Pareces-me promissor, só precisas ser mansinho
E olha que eu dou-te uma carreira se tu fores lá comigo

[Refrão]
Eu sinto que eu morro dentro deste pandemónio
Clamo por socorro, o espaço lembra-me o demónio
Querem mudar-me a diretiva, deformar-me a narrativa
S.O.S, o Dr. quer testar-me a saliva!