Um Negro de Chabbá

[Estrofe I]
Calças largas, o porte físico, magrelo
Sem cortes extravagantes, sem risco no cabelo
Vindo do esgoto, do bairro lamaçal
Com a alquimia na poesia, no plano textual

Que o pôs no mapa, no pedestal da escrita magistral
Entre milhões distinguiu-se excepcional
Espiritualmente arrepiante mentalmente distante
Inspiração em carne viva para todo iniciante

É o beco com magia na caneta
Excêntrico, e tanto, quem dizia ser poeta
Perante a imponência, da sua narrativa
Que trazia os becos de Angola com a saliva
Li sua missiva

Segui as pegadas no deserto
Sempre atento, sempre estive por perto
Quando com o tempo
O tempo revelou o intelecto
Que nasceu nos becos de Angola sem concreto

[Estrofe II]
Personificado na minha escrita menestrel
Sentia-o quando tocasse a caneta e o papel
É inefável, um encontro além da matéria
Antes do sistema ter percebido que a coisa era séria

Foi a dormir que cheguei perto do artista
Que vi na noite em que sonhei ser liricista
Disseminava a verdade, tinha apenas vinte
E quem o ouviu tentou imita-lo no dia seguinte

Tu, podes trancar a cara, empinar o nariz
Tu, podes até fazer um comentário infeliz
Essa é a porta que se abriu para que visse outros Mcs
Quando na altura éramos todos Wanna Be's

Diz, se ainda tens dúvidas disso
Foi ali que vi que o Rap é compromisso
É a poesia, é o poema, é a rima
Muito antes do Ranger, muito antes do Bima