Nuno Prata
Nuno Prata
Nuno Prata
Nuno Prata
Nuno Prata
Nuno Prata
Nuno Prata
Nuno Prata
Nuno Prata
Nuno Prata
Nuno Prata
Nuno Prata
Como que morto pró mundo
Expiro num sono profundo
Enterrado no colchão
Quando a minha mulher me chama
E me faz saltar da cama
Pergunta "Sabes que horas são?
É que eu já estou atrasada
E a bebé está acordada
A precisar de atenção."
Mudo a fralda à bebé
Ainda a dormir em pé
A tactear na escuridão;
Tento combinar-lhe a roupa
Antes de lhe dar a sopa
(é essa a indicação)
Entrego a bebé à avó
Pra conseguir ficar só enquanto
Elas vão dar a volta ao quarteirão
Aproveito assim que posso
Pra aquecer o meu almoço
Um resto de arroz de feijão
Que vou comer para o sofá a
Amaldiçoar a manhã e o amanhã
Deitado em frente à televisão
Diz-se "um dia não são dias"
Mas às vezes é esta a frustração:
A de saber que quando são
Um dia não são dias não
Passo o dia em pijama
Pronto pra voltar prá cama
A curtir a depressão
Tenho um emprego precário
Um part-time temporário
Um biscate que arranjei no fim do verão;
Mas hoje é o meu dia de folga:
É o dia que mais me empolga
É uma verdadeira vocação
Também já fui avisado que
No fim do mês vou ser dispensado —
A crise é a justificação
Então, em vez de proletário a fingir
Volto a ser o que sempre fui:
Um burguês falido; volto a
Ser o meu próprio patrão
A magicar o dia inteiro
Mil maneiras de conseguir ter dinheiro
Sem cravar a mulher, a mãe e o irmão
Diz-se "um dia não são dias"
Mas às vezes é esta a frustração:
A de saber que quando são
Um dia não são dias não