Um Dia

Eu sou tentado a acreditar que um dia tudo mude
E o ser humano perceba que sendo superficial se ilude
No dia em que ele deixar de sonhar subir a um trono
E compreenda que o dinheiro é um servo e não um dono
Quando vir que a existência não passa de um mero instante
E que por vezes ganhando perde o que é mais importante
Que não há quantidade de ouro comparável à amizade
E que nenhum GPS indica o caminho da felicidade
Que na vida é demasiado fácil acabar perdido
E que o melhor investimento é naquilo que lhe dá sentido
No dia em que ele vir que a paz interior tem custo zero
E que não há quantia que lhe compre um amor fiel e sincero
Sou tentado a acreditar numa inversão de valores
Numa fortuna que não tem género, classes nem cores
Quando perceber que a posse não o impede de sofrer
Que apenas a força de votade o pode fazer

Quando for claro que relações não são receitas tributárias
E que pessoas não são extratos de contas bancárias
Que a confiança é preciosa e não se vende a retalho
Que vida não é só trabalho casa e casa trabalho
Há algo mais a explorar para lá do ciclo pendular
E quando o seu tempo acabar não há salário que possa guardar
Quem persiste sabe bem que nesta terra de ninguém
Tristemente é-se alguém segundo aquilo que se tem
Segundo aquilo que se veste
Segundo aquilo que se calça
E a metapólis continua neste circo e nesta valsa
Até ao dia em que ele consiga ver as simulações
As manipulações flagrantes nas classificações
Talvez um dia ele reveja as suas decisões
Invista mais em emoções do que em corporações
E veja que setornou escravo de remunerações
E que a liberdade não está no fim da fila do euromilhões