Há um acordo ortográfico atrás da sombra do público
Escrito sem dúplico com sangue que escorreu no púlpito
É único, icónico, irónico, étnico, idílico
Para aqueles que veem o mundo enquanto um sistema cíclico
Que não evolui
Que mantêm
Que se adapta e que não se contêm
Em que alguém se define pelo background que tem
Pelo bairro de onde vem
É como mais lhes convém
Soubessem eles como o preconceito lhes fica bem
Responde a vigílias de currículos com mais valias
Correspondе a boas famílias
Apelidos trazem regalias
E os dias vão passando mas são todos semelhantes
Por entre edifícios mutantes com cores gritantes
Mentes sobrantes e errantes num esgotamento
Todos querem ser doutores
Poucos tem doutoramento
Conceitos são alterados
Olhos foram vendados
Significados trocados, envenenados e inventados
E hoje são usados
Aceites como argumentação
Refugiam a intolerância e a discriminação
São fruto da ignorância e da ânsia de rotulação
Ganância assegura a discordância da população
Vieram em vão e eles disseram que são
Profes que dentro de turmas criaram separação
E sem hesitação passaram então ao sermão
Sem colocar em questão o lugar em que estão
E a recomendação é evitar os bairros sociais
Para os jornais são sinónimo de marginais
Pensar é mais difícil que dizer:
“são todos iguais, se lá entras não sais, são covis criminais”
E putos crescem com ideias pré-establecidas
Mentes perdidas reflectem cidades mal geridas
E vão aprendo e vendo passar os anos
Ensinados em enganos de planos urbanos
A sonhar em ser o Scarface
A imitar os Sopranos
Com semi-automaticas e charutos cubanos
Convencidos e entretidos a venerar tiranos
Porque o dinheiro transforma filhos da puta em gajos bacanos
O que é queres que eu te diga?
É verdade, a cantiga é antiga
A sociedade pede
A realidade cede á fadiga
Raramente desliga
E faz com que não se consiga passar à outra liga
Preconceitos são mitómanos
Não confiam em ninguém mas tratam todos por manos
Precisas de aprender que há insultos escondidos
No silêncio dos conflitos que foram mal resolvidos
E que palavras podem trazer dois sentidos
E que elas regressam apenas para te assombrar os ouvidos
Com factos omitidos e complexos adquiridos
De sentidos adormecidos com pedidos fingidos
E quando pensas estar seguro elas atacam sem veres
Estão marcadas na rotina dessa sina de afazeres
Tiram direitos dão deveres e sem tu te aperceberes
Deixam-te um número para ligares e agradeceres
Porque eles insistem “a morada não tem importância”
Mas na entrevista de emprego ela tem relevância
É a predominância da vigilância que ela prefere
A elegância da dissonância que ninguém refere
Porque o respeito é-te dado se andares engravatado
Mete um cap e uma sweat e tu és olhado de lado
Os preconceitos tornam mais fácil discriminar
E divididos somos mais fáceis de controlar
Frases são labirintos para os valores extintos
Induzidos a pensar que estamos em lados distintos
Todos seguimos instintos e queremos o nosso cantinho
Comida na mesa e prendas no sapatinho
Mas cunhas e locais tornam-se credenciais
Oferecem oportunidades desproporcionais
Sempre baseados em aspectos superficias
Porque fatos transformam parvos em intelectuais
Tecem e distorcem as tomadas de posição
Fronteiras elegem e emergem do alcatrão
E permanecem preparadas para a sucessão
Do preconceito pronto a servir à nova geração
C57 released Preconceitos on Thu Oct 20 2016.