Tenho ouvido um pedido repetido sem responder
Comprometido a transmitir um reflectido dever
Interrompido pela provocação de não saber
E é divertido que na diversão me custe escrever
Num acto irreflectido dou pela caneta parada
Em pleno jogo do sério com a folha ainda intocada
O beat roda impaciente mas não me sai nada
Merda
Simplesmente a gravação vai ser adiada
A produção fica encostada até a inspiração vier
Vou sair do estúdio e procurar uma alegria qualquer
Talvez encontre eventual assunto
E seja ideal p’ra sair da rotina
E poder fugir ao habitual
Fim-de-semana especial
Euforia artificial
Pausar em festas
Ou seja: nada de substâncial
Dar no visual numa metáfora de cariz sexual
Um tema light para quem está de dieta intelectual
E ver as massas levantar os braços como prevê
Não é só desgraças não trabalho para a CMTV
Mas explico o porquê: a escrita tem prioridade
Dedico-me ao rap só por estrita necessidade
Com integridade num acto de auto-defesa
Não é sem pensar que ela não me paga a despesa
Mas a leviandade vai contra a minha natureza
Vou experimentar mas não posso dar uma certeza
Quero ver mãos no ar
Lançar um hit inconfundível
Que torne apetecível cortar carne invisível
Susceptível de reforçar uma apatia terrível
Um trapcore que enquanto toca faz sentir invencível
Quero ver mãos no ar
Lançar um hit que invalida
Com lírica que nos convida a esquecer
Que a vida não é a merda do estilo
Não é estupidez a quilo
E não é ficar tranquilo enquanto ela é enaltecida
Não sei se é exequivel agradar à posaria
Ou dar uma de Narcos p’ra roçar na gunaria
Com cap da Nike à Batatinha e Companhia
Na romaria onde a indumentária brilharia
Ali varia mais do mesmo e lá veria o senão
Elevaria o saldo da conta bancária
Ao balcão perguntaria "já deu entrada ao salário ou não?”
Otário é quem se fia no horário da satisfação
Fazer olhinhos ‘ara ter guitos certinhos na voz
Para ser fodido e vender street a betinhos da foz
Prezar os cotas e nas costas beefar os avós
Mostrar respeito apenas quando ficamos a sós
Já vi o Rap ser moda chamam-lhe Hip-Hop a granel
Como no skate patrocínios patrocinam papel
Por isso eu passo ao lado
Faço por ficar afastado
E brindo ao fracasso total de mais um hit falhado
Há noite só me encontram se for num bar sossegado
Dispenso discotecas por isso não sou barrado
Ignorei o tempo o meu flow é do século passado
Não passei na prova para ser MC certificado
Saúde, Paz, Amor basta para viver como reis
Não quero limusina chega um Calibra V6
Não tenho calma para putos que se fingem maus
A thug life é num caderno organizar o caos
Aqui não há party hard ou inconsciente colectivo
Nem move your body, puto
Vê mas é se lês um livro
E que se foda se não sobrar ninguém para o partilhar
Mas ya, ok a pedido vou voltar a tentar
Quero ver mãos no ar
Lançar um hit inconfundível
Que torne apetecível cortar carne invisível
Susceptível de reforçar uma apatia terrível
Um trapcore que enquanto toca faz sentir invencível
Quero ver mãos no ar
Lançar um hit que invalida
Com lírica que nos convida a esquecer
Que a vida não é a merda do estilo
Não é estupidez a quilo
E não é ficar tranquilo enquanto ela é enaltecida