Não Apontes

[Intro: João Pestana]
Não apontes isso para mim
Não apontes isso para mim
Não apontes isso para mim

[Verso: João Pestana]
Não ataquem o vosso irmão, ataquem antes o patrão
Percebo a tesão de querer lançar a primeira que caia na mão
Começou na educação
Baleia logo a perna e depois fazes questão
Vês se foi bom ou não, modo auto-avaliação
Foste ensinado assim
A esquecer o teu povo e só focar em ti, como se isso fosse álibi
Para pisar todos aqueles que trilham o caminho em si
Como tu, agarrados ao trabalho, na ingrata busca de conteúdo
Alguma espécie de sumo, sabor amеno que dê rumo
Uns encontram no som, outros encontram no fumo
E a maior partе se não fosse arte não veria nada
Não faças ninguém virar a cara para apontar da arma
Queres disparar? Dispara
Mas nunca desperdices a bala, atira para onde importa
Um estado que te mete à porta
Um futuro que grita "aborta", uma cepa menos torta então
Corta o plano vira o cano para todo o lado menos pra mim
Nem quem está contigo aqui
Somos todos benjamins, numa barcaça remendada
Disparas á maluca, e ainda furas a amurada, e afogas a manada
E tudo o que toda a gente queria, era decidir como morreria
Não mates quem quer ser vida, há alternativas
Somos todos a tua imagem refletida
Peões numa corrida transmitida diferida
A diferença só quem sabe e desdenha
Ou quem se orgulhe e definha
Atacar os outros nunca te porá na front da linha
Orgulho na gavetinha
Fala da vida da mina
Dispara para o salário,. para os demónios de bantina
Para o precário, para o bancário, renda e polícia assassinas
Para a classe que governa sem ser vista
A morte do artista, dispara até chegar ao fim
Mas mira quem merece, não apontes isso pra mim!