28

[Letra de "28"]

[Intro]
Num corredor, todas as portas vão dar a algum lado

[Verso 1]
Em cada porta um universo e eu disperso
Navego pela hipótese
Fico um coche, observo
Cada traço daquele rosto vivo e morto, ciente absorto, conheço bem
Nuns nasceu sem pai, noutros foi sem mãe
Em certos explorou tudo mundo espaço saber oculto
Noutros foi um fungo, dum feto sem fruto
Arrancado pelo absurdo progredir do mundo
Capital declara devoluto terráqueo reduto
Realidades mistelas
Vidas tristes belas
E eu sou conjunto delas
Densas e singelas encruzilhadas paralelas
Cada gesto abre uma porta e fecha o resto
Não há regresso donde vieste
Se o real multiplica és o plano que fizeste

[Refrão]
Sou 28 por cento das escolhas que fui fazendo
Quando troco tudo por um só, o que sou pelo que fez o tempo
A verdade é diferente em qualquer lado
Enquanto cruzo andares e alguém grita: "Belo quadro!"

[Verso 2]
Escolhi e dividi
O próprio todo em si
Mudei a minha quota parte e o resto reparti
Toda a opção que eu não tomei
Curva que eu não virei
É hoje mundo singular com a sua própria lei
Início, meio e fim que eu criei mas não tomei um lado
Vi prostrado a gota tornar-se um lago
A folha tornar-se o largo
Verde que engloba o ninho
De onde parte o ser humano voa com o seu pergaminho
É abatido pela ganância inerente de querer sempre mais um pouco
Comprar a existência e ainda exigir o troco
Até fico rouco só de gritar de aviso
Haja siso
Paro no corredor a tecer o meu juízo (nem porta abri)

[Refrão]
Sou 28 por cento das escolhas que fui fazendo
Quando troco tudo por um só, o que sou pelo que fez o tempo
A verdade é diferente em qualquer lado
Enquanto cruzo andares e alguém grita: "Belo quadro!"