Sei que a noite vem
E uma insónia garantida que não paguei
Não sei se agradeço a quem
Ter este tempo extra dentro da cabeça
Mas tudo o que é banal fica tão absurdo
E o que era casual fica tão agudo
Que posso dedicar-me ao avesso do mundo
Sem que nada me impeça
Sei que a noite cai
Mas cai garantidamente aqui ao lado
Sobre a minha cama como se fosse
Uma presença que eu tivesse desejado
E então quando começa com as opiniões
Toda a sua panóplia de argumentações
Eu juro que me agarro com força às pestanas
Mas elas resistem a tudo, espartanas
Sei que a noite vem
Claramente alucinada sem nenhuma cerimónia
Instala-se de braços cruzados
Qual utente com direitos a ver a insónia
E nada a demove da sua intenção
De me levar p'ra lá da exasperação
Eufórica exige todo o tempo de antena
E nem debaixo da almofada consigo sair de cena
Talvez se eu me render
E hastear o meu lençol
Eu possa ainda adormecer
Noutro canto à luz do sol
Enquanto o mundo indiferente
À minha guerra privada
Começa outro dia leve
Como se não fosse nada