Despedida

Seguro-lhe o cabelo porque ela ainda vomita
Enquanto balbucia uma razão prolixa
Que a faz não querer ser mãe antes dos trinta
Passados dez anos o seu olhar brilha
Enquanto segura a segunda filha
Quem diria?... e nenhum de nós ainda chegou aos trinta
Irónico, curioso, assombroso
Digo vocábulos como um tique nervoso
Para não pensar naquele dia
Eu só queria manter a minha mão naquele rosto
Para sempre
Até onde o sempre desse
Aquele sempre, tão lá à frente que até um vidente se esquece
Já não me lembro digo e peço um whisky - de voz tremida
Ela já não bebe tanto, muito menos a esta hora do dia
Sabes o que dizem, um homem diz muito sobre
A sua bebida e eu tenho as mesmas rugas que
A casca onde esta foi envelhecida
"Brindemos, então!" ela brinca
Levanta a mão, grita "trinta". E mesmo que minta
Agradeço o esforço para tornar mais doce a despedida

[Refrão]
Eu antes de ti(?), eu antes vivi
Eu antes soube durante e onde me juntei a ti
E antes coube, antes houve um espaço para mim
E antes que hoje se ponha sobre
Eu salto daqui

Ela teve duas vidas. Ele teve duas vidas
P'ra criarem duas vidas, esqueceram as suas vidas
Eu ainda era um bebé naquele dia
Em que um voltava e o outro partia
E penso que não vejo a chegada porque sou filho da despedida
Na linha de partida, sempre, quando amanhece
Há sempre uma nova corrida e um pódio que nos esquece
A glória é passageira
A memória é traiçoeira
A nossa história é um romance que sonhamos sempre à nossa maneira

Obrigado aos dois que me fizeram forjado
No fogo que incendiou o vosso passado
Obrigado a ela, por me mostrar
Que a maioria dos caminhos existem para ser fechados
Por isso, faz as tuas despedidas
E segue com essas duas vidas
Aceitando o facto de que a vais esquecer
Mas sempre amarás aqueles dias