Crânios, Legumes e Janelas

[Verso 1: GÁBE]
Eu sou profissional, carregador de piano
Minhas dores vão e vem, altos e baixos tipo milhafre
Espalhando odores desagradáveis em tom ciano
Do que adianta ter um flow mais rápido que do spinafre
Eu odeio verduras, só absorvo gorduras
Só observo rimas pesadas com colesterol alto
No lúpulo e malte, busco energia do malto
As sessões eu nunca falto, mas não encontrei a cura
Eles tão me comendo o coro, eles querem mais do que eu posso
Eu não queria ser tão grosso, eu não queria ir primeiro
Eu só queria meu time funcionando como engrenagem
Mas meus dentes tão gastos e eu não engulo isso inteiro
Eu não maturo nunca, e não me aturo nunca
Bolas de ferro na minha arte me fazem doer a nuca
As rimas nuke, explodindo janelas
Mas as portas não se abrem no que diz respeito à zuca

[Verso 2: Alã]
Só pra quem entende e aprecia
A poesia que rasga minha pele todo santo dia
Entrei no automático, no verso matemático
Beat bate, boombap mano, isso vicia
Fujo sempre do encarte, a mente mantenho em marte
Somando no movimento me afogo em arte
Boto a luneta com calma, to com a caneta na palma
É o que eu preciso e no papel, materializo minha alma
E piso fundo, a drena é tanto que nem me cabe
Cantarolando os sons que a ello. lança, a gente sabe
Que o deslocamento pendular em meio aos espelhos
Fez somar os meus conselhos, com os do GÁBE
O desespero carnal, me distanciou do real
Eu espanquei meu relógio achando que era cedo
Sirvo o café matinal, o guardanapo é o jornal
Vestindo um trapo sem sal, misturo pão com medo
Eu não sei juntar dinheiro, eu não sei guardar segredo
Só acumulo rancor e miro a ponta do dedo, paz