Thiago Amud
Thiago Amud
Thiago Amud
Thiago Amud
Thiago Amud
Thiago Amud
Thiago Amud
Thiago Amud
Thiago Amud
Thiago Amud
Thiago Amud
Thiago Amud
Nasci num paradeiro que chamavam de Brasil
No mês do carnaval de um já remoto ano dois mil
Tô velho e deslembrei do seio que murchei
Mas lembro das porradas sob as quais eu desmamei
Ainda meninote, eu intuí o meu lugar
O dente da ambição me acicatou a jugular
Tomei um semancol e num piscar do sol
De sub-aviãozinho virei dono do paiol
Mas isso não bastou, pra mim era humilhante
Examinar o espelho e achar um mero traficante
Até que ouvi uma voz: Escuta, meu rapaz
Me entrega teu destino, liberdade e tudo o mais
Que eu faço teu futuro da maneira que te apraz
Porém, passaram anos de marasmo e ramerrão
Baladas e chacinas, primavera e caveirão
E tome pancadão e tome inferno astral
Compadres no monturo, inimigos no jornal
A década acabou e eu vi na minha frente
Um comitê de gringos com seu líder sorridente
E conheci a voz daquele chanceler
Notei nas suas têmporas sinais de Lucifer
Sujeito de palavra que auxilia quem malquer
Que veio colocar minh’alma no penhor
E em troca me alçaria à estatura de senhor
Que amor!
Faria da favela um território above the law
Um éden de heroína e de cheirinho-da-loló
Pro homem do amanhã ter trip cidadã
E o Rio de Janeiro ser melhor que Amsterdã
E completou: My boy, I’m gonna give you what you miss
Teu morro será quase como fosse outro país
Um tipo de Hong Kong na aba de uma ONG
De iogues-comissários de gravata e de sarongue
E tu serás a lei! – Oh, yes, I am the boss!
Tornei a olhar o espelho e me flagrei tomando posse
Dobrei os meus rivais, tramei reviravolta
E agora o fisco existe pra bancar a minha escolta
E as forças desarmadas vão calar sua revolta
O novo catecismo são meus ditos no pasquim
Meu nome é traduzido em esperanto e mandarim
Os gringos me mantêm, o lúmpen me quer bem
E a alta burguesia do meu pó virou refém
Reservas, tribunais por sob as minhas patas
Eis-me o mais orgânico dentre os aristocratas
Tudo que eu sofri agora é meu troféu
É meu salvo-conduto pra moldar o povaréu
E ser glorificado antes de assar no beleléu
No mês do carnaval nasci no ano dois mil
E abri mais uma estrela em teu pendão com meu fuzil
Brasil