A Saga do Grande Líder by Thiago Amud
A Saga do Grande Líder by Thiago Amud

A Saga do Grande Líder

Thiago Amud * Track #7 On De Ponta a Ponta Tudo É Praia-Palma

A Saga do Grande Líder Lyrics

Nasci num paradeiro que chamavam de Brasil
No mês do carnaval de um já remoto ano dois mil
Tô velho e deslembrei do seio que murchei
Mas lembro das porradas sob as quais eu desmamei
Ainda meninote, eu intuí o meu lugar
O dente da ambição me acicatou a jugular
Tomei um semancol e num piscar do sol
De sub-aviãozinho virei dono do paiol
Mas isso não bastou, pra mim era humilhante
Examinar o espelho e achar um mero traficante
Até que ouvi uma voz: Escuta, meu rapaz
Me entrega teu destino, liberdade e tudo o mais
Que eu faço teu futuro da maneira que te apraz

Porém, passaram anos de marasmo e ramerrão
Baladas e chacinas, primavera e caveirão
E tome pancadão e tome inferno astral
Compadres no monturo, inimigos no jornal
A década acabou e eu vi na minha frente
Um comitê de gringos com seu líder sorridente
E conheci a voz daquele chanceler
Notei nas suas têmporas sinais de Lucifer
Sujeito de palavra que auxilia quem malquer
Que veio colocar minh’alma no penhor
E em troca me alçaria à estatura de senhor
Que amor!

Faria da favela um território above the law
Um éden de heroína e de cheirinho-da-loló
Pro homem do amanhã ter trip cidadã
E o Rio de Janeiro ser melhor que Amsterdã
E completou: My boy, I’m gonna give you what you miss
Teu morro será quase como fosse outro país
Um tipo de Hong Kong na aba de uma ONG
De iogues-comissários de gravata e de sarongue
E tu serás a lei! – Oh, yes, I am the boss!
Tornei a olhar o espelho e me flagrei tomando posse
Dobrei os meus rivais, tramei reviravolta
E agora o fisco existe pra bancar a minha escolta
E as forças desarmadas vão calar sua revolta

O novo catecismo são meus ditos no pasquim
Meu nome é traduzido em esperanto e mandarim
Os gringos me mantêm, o lúmpen me quer bem
E a alta burguesia do meu pó virou refém
Reservas, tribunais por sob as minhas patas
Eis-me o mais orgânico dentre os aristocratas
Tudo que eu sofri agora é meu troféu
É meu salvo-conduto pra moldar o povaréu
E ser glorificado antes de assar no beleléu
No mês do carnaval nasci no ano dois mil
E abri mais uma estrela em teu pendão com meu fuzil
Brasil

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