José Mário Branco
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“1.º de maio” é uma canção de José Mário Branco, editada em 1978. O tema é um excerto da peça de teatro “A Mãe” (Comuna, 1978) que apresenta o ambiente de uma manifestação comunista de trabalhadores, pelo olhar dos “operários da fábrica Areal”.
Num primeiro momento esta mantém-se pacífica, concentr...
[Letra de "1.º de maio"]
[Estrofe]
Quando nós, operários da fábrica Areal, chegámos ao mercado, encontrámo-nos com os manifestantes das outras fábricas que já eram muitos milhares
Levávamos cartazes que diziam "operários, apoiem a nossa luta contra a redução dos salários! operários, uni-vos!"
Desfilávamos calma e ordeiramente; cantava-se "A Internacional" e outros hinos revolucionários
A nossa fábrica marchava diretamente atrás da grande bandeira vermelha
Atrás de mim seguia a minha mãe. Quando foram buscar-nos manhã cedo, ela saiu da cozinha já pronta
E, quando lhe perguntaram onde ia, respondeu "vou com vocês"
Tal como ela, seguiam-nos muitos outros que o rigor do inverno, a redução dos salários e o nosso trabalho de agitação tinham trazido até nós
Antes de chegarmos à avenida cruzámos alguns polícias. Não vimos soldados
Mas da esquina da avenida com a praça deparou-se-nos subitamente um duplo cordão de soldados
Ao avistarem a nossa bandeira e os nossos cartazes, houve uma voz que gritou "atenção! dispersar ou disparamos! e fora com a bandeira!"
Sustivemos a marcha, mas como a retaguarda não parara foi impossível aos da frente conter o avanço. E agora já havia tiros
Quando os primeiros manifestantes começaram a cair, estabeleceu-se a confusão geral
Muitos não acreditavam no que viam. Depois os soldados carregaram sobre a multidão
A minha mãe decidiu acompanhar-nos para mostrar o seu apoio à causa dos trabalhadores
"Os manifestantes eram pessoas honestas", dizia, "tinham trabalhado a vida inteira"
Claro que também havia desesperados que o desemprego tornara capazes de tudo
E também muita gente faminta, demasiado fraca para defender-se
Continuávamos à frente e não dispersámos quando os tiros começaram
Tínhamos a nossa bandeira. Era um risco quem a levava e não tencionávamos largá-la
Não trocáramos uma só palavra, mas depois pareceu-nos ver gente importante que nos atingissem e abatessem precisamente a nós
Que nos arrancassem a bandeira. A nossa. A vermelha
Queríamos que todos os trabalhadores vissem quem somos e por quem somos. Reconhecessem que somos os trabalhadores
Os que nos atacavam portavam-se como feras. Precisavam de ganhar a vida e os patrões pagavam-lhes para isso
Mas todos acabariam por compreendê-lo. Por isso a nossa bandeira, a bandeira vermelha, tinha de ser levantada bem alto à vista dos soldados e de todos os outros
E aos que continuem não é preciso contá-lo
Hoje saindo, amanhã ou nos próximos anos, até ela voltar a ser vista
Pois julgamos saber, e muitos já o sabem, que ela voltará sempre a ser vista até ao dia em que tudo será totalmente transformado
E esse dia aproxima-se. A nossa bandeira. A mais perigosa para todos os exploradores e todos os tiranos
A mais implacável, mas para nós, trabalhadores, a bandeira de combate decisivo
Por isso voltareis sempre a vê-la com alegria ou ódio, conforme a vossa opção nesta luta
Só poderá caminhar com a vitória completa de todos os oprimidos de todos os países do mundo
Mas nesse dia era o operário Luís que a levava
Há vinte anos que pertence ao movimento
Foi um dos primeiros a divulgar na fábrica os ideais revolucionários
Lutámos por salários e por melhores condições de trabalho
Negociou várias vezes com os patrões em defesa dos interesses dos seus colegas
A princípio operou em clandestinidade, mas depois admitiu que houvesse um caminho mais fácil
Se a nossa influência aumentasse, caber-nos-ia a nós também decidir
Viu, porém, que se enganou. Ei-lo aqui com milhares de outros atrás, enfrentando como sempre a violência
"Entregar-lhes ou não a bandeira?", perguntou
"Não, Luís, não a entregues! É inútil negociar o que quisermos!"
E a mãe dele disse-lhe: "Não há razão para que a dês. Nada poderá suceder-te. A polícia não pode ter nada contra uma manifestação pacífica"
E, neste instante, o oficial da polícia gritou: "Entreguem a bandeira!"
E o Luís [olhou para trás?] e viu atrás da bandeira os cartazes. E nos cartazes as nossas soluções. E atrás dos cartazes os grevistas da nossa fábrica
E nós ficamos a ver [aquilo?], ali junto de nós, o que um de nós faria com a bandeira
Vinte anos de movimento operário, revolucionário, no dia 1.º de maio às onze horas da manhã
E no meio da avenida [?] disse: "Não a dou! Não haverá negociações!"
"Muito bem, Luís!", exclamámos, "É assim mesmo! Agora está tudo em ordem!"
"Destapem a saída!", mas tombou à frente com a cara no chão pois a ele já o tinham abatido
E corremos, alguns quatro ou cinco, para segurar a bandeira, mas ela caíra ao lado da minha mãe
Então a minha mãe, serena (que pacífica a camarada!), curvou-se e pegou na bandeira
"Entrega-me a bandeira, Luís!", disse ela, "Entrega-me a bandeira! Eu levo-a! As coisas têm de mudar!"
[Vocalização]
1.º de maio was written by José Mário Branco.