Siga para o barco hora de fugir
Não quero estar aquinem quero sair
Mas se ficar eu vou morrer e se bazar não vou poder
Ver os filhos a crescer na terra que me viu nascer
Entre a espada e a parede tanta água e nós com sede
É a suprema ironia e se aguentar a travessia
Sem qualquer anomalia já ganhei a lotaria
Gastei tudo o que tinha no nosso bilhete
Nem sequer tenho uma linha para coser o colete
Lá se vai o sainete mas não vou ao tapete
E se dúvidas disso ainda te dou um bilhete
No outro lado mora a minha fiança
Refugiado tem que pagar a esperança
Não escolhe a música: só ouve e dança
Escapa à guerra fugindo à matança
No outro lado
No teu lado
Encurralado
Refugiado
Do outro lado
Ao teu lado
Eu canto o fado
Do acossado
Uma mão puxa, outra empurra
Esta mão tira, essa dá de surra
Aquela voz grita aquela sussurra
Aqui é tolerante e ali é casmurra
Só quero uma abébia para me fazer à vida
Não sou um terrorista em missão suicida
O alvo à vista é trabalho para comida
Fazer uma lista, pensar na dormida
Não sou o lobo, não me ponhas a pele
Sou o elo mais fraco no meio deste bordel
Com a educação que tenho é quase cruel
Não me darem um emprego que seja fiel
Não quero condescendência, só perceção
Alguma paciência na situação
Alguma decência, compreensão
Na minha urgência de uma solução
No outro lado
Que é este lado
Encurralado
Refugiado
Do outro lado
Ao teu lado
Eu canto o fado
Do acossado
(Na história da humanidade
Sempre houve um
Refugiado
Com este mesmo fado
A diferença é que agora
Nós temos toda a informação
Do nosso lado
Do teu lado)
Fado do Acossado was written by Carlão (PRT).
Carlão (PRT) released Fado do Acossado on Mon Dec 25 2017.