We are writers

[Poema de Charles Bukowski - Así que quieres ser escritor]

Acendo mais um cigarro esperando uma luz no escuro
Invocação divina, no vácuo infinito deambulo
Tem de ser puro, digno de um prémio literário
Escrito, riscado , continúo no meu eterno diário

Se as palavras nao encaixam, nao as quero para nada
Folhas riscadas, amassadas, letra desperdiçada
Se calhar encaixava, talvez resultaria
Mas se a aura não a abraça, de nada adiantaria

Forçar a poesia é o mesmo que forçar a calma
Espicaçar um sentimento que transborda a alma
Eu quero ser escritora, não o quero por profissão
Quero que cada linha queime como lava de um vulcão

Se é paixão? Só um escritor o pode descrever
Que até na hora da morte, o Adeus sabe a renascer
E até não haver mais papel, amor nem tinta
Amassarei todos os maços de monólogos na escrita

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Desde o tempo do papiro, à era do teclado
Nós nunca nos extinguimos porque sempre houve algo
Eles nunca nos extinguiram e sempre fomos um alvo
A ter em conta que a caneta é a arma que fala mais alto

Também eu estou no meu quarto, vê a forma como verto
Lágrimas em páginas que não voam com o vento
Eterno o Livro Negro, as palavras sou eu
Lamento quem esmoreceu vítimas do meu lamento

O meu defeito é não parar de ser eu mesmo
Se me dessem um Nobel eu enfiava-o num cesto
Razão vai para além da barreira conhecimento
Admito a necessidade eu tenho a cidade por dentro

Trago mil chaves, dão-me dez mil portas
Usar as janelas é pra quem não respeita a obra
Às vezes a sua própria mas para palavras mortas
Basta ter a noção que eu fui escrito em linhas tortas

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Em nome do Pai do Filho e do Espirito Santo
Falas pouco contigo pra quem reza assim tanto
É irritante ver-te fechado nesse pranto
Trancado num caderno nunca vais passar do canto
Encantas no canto sem ter cantos escritos
Eu tenho cantos no canto que nunca foram vistos
Encantas no canto sem ter cantos escritos
Tenho escritos no meu canto que canto acerca disso
Enquanto isso chutas pa canto... esperando que peguem nisso
Mesmo assim tu juras tanto, não prometes é compromisso
Não prometas é compromisso, és poeta não submisso
Agarra a letra tu és isto, se não sentes não faças isso
Se for pra me ajoelhar... é aquilo que tenho escrito
Se for pra me arrepiar... é aquilo que tenho dito
Se for pra alguém me amar por aquilo que eu digo
Mais vale que primeiro entendam o caminho que eu sigo