(Verso 1)
Trinta anos, dois filhos, sem família, sem ajuda
Corpo de mulher, coração de miúda, tempo passa, pouco muda
Casa de amigas, pouco tempo, não deu certo, nunca dá certo
A distância é tudo amor, a verdade a gente vê quando está perto
À frente dela sorria, minha mãe dizia 'filho, come e agradece à tia'
Obrigado tia, minha mãe saía, chamava a minha cota de vadia
Comida ela escondia, pai não havia, a branca não a via
Cansada daquela vida, mudámos para a moraria
Minha cota, não sabia, escondia-a dela, escondidas Zuraider que eu às vezes, não comia nada
Lágrimas que eu limpava na almofada
Dois empregos improvisados, deu para ter um cubículo alugado
Novo homem sentado ao teu lado, eu ciumento, o teu puto magoado
Lembras-te quando o cota Edmundo chegou? Partido, espancado
Penso, inflamado pela Polícia Judiciária mas ele não tinha falado
Vender drogas deu para ter o frigorífico recheado
Um ano menos pesado, melhor do que o ano passado
Tu sofreste, tu caíste, só Deus sabe o que tu viste
Desistir, não desististe, fraqueza em ti miúda, não existe
Mulher abençoada, como tu minha mãe, já não há
Agora distantes estamos próximos, são as voltas que a vida dá
(Verso 2)
Finais dos anos noventa, Rio do Mouro, Mercês
Tua mãe vivia longe, a gente só se via uma vez por mês
Tu engravidaste, abortaste, largaste, afastaste-te, voltaste, dessa vez, tu ficaste
Porque nunca ninguém me amou como tu me amaste
Tua garra, teu jeito é perfeito, nosso mundo imperfeito
Preconceito sempre perto, tu branca e eu preto
Nossos filhos, nosso teto, dizes que eu te completo
Tu sabes que tu me completas, é verdade e agora eu prometo
Mas não, eu não prometo nada, de promessas estás farta
Essa aqui não é a carta de amor mas o amor dessa carta
Quantas vezes tu pagaste sozinha as contas
Porque o Édson é bom para rua e música, como homem em casa não conta
Então, tu mereces a aliança, os Mercedes e muito mais
Se eu vivesse duas vezes, não seria capaz de te dar metade do que tu me dás
Tanta coisa em ti me cuia faz lembrar a minha cota, a Dona Tina
Tipo a Iara, não é a tua filha mas tu dizes que é a nossa menina
Teu pai nunca esteve perto, hoje é vizinho, como o mundo é pequeno
E com o RAP, a gente ajuda a cota a comprar um pequeno terreno
Para ti vêm plasmas, roupas, quadros, sofá
Porque acreditaste em mim, são as voltas que a vida dá
Voltas Que A Vida Dá was written by NGA.
NGA released Voltas Que A Vida Dá on Sat Feb 02 2013.