Surdez voluntária

[Introdução]
50 anos de Hip Hop
(Bettu on the beat)
Só um presidente negro?
E ainda morrem de fome

[Estrofe 1]
Eu já fui uma ferramenta de revolução
Eu já fui usado para fazer uma transformação
Eu já fui o meu meio usado para fazer uma denúncia
Também, já fui uma forma de renúncia

Da penúria imposta no subúrbio
Onde não há educação, só há distúrbio
Devido à violência, já fui usado para condenar
O racismo científico que tende em perdurar

Eu sou o vírus culpado pelo renascimento
Afrocrata, que ajudou alguns a ter conhecimento
Que consistia em enxergar além do sistema
Que pode ser vida boa e com menos problema

Eu sou constituído por vários pilares
Mas agora eu vou citar os basilares:
Rap, DJ, Knowledge, MC, break dance e graffiti
Acho que tu já sabes o que eles perderam

[Refrão]
Tu sabes quem matou Clark?
Eu não sei
E quem assassinou Amílcar?
Sem comentário
Por que ainda travamos guerras?
Eu não sei
Por que África não desenvolve?
Sem comentário

Mas decoras as falsidades do invasor
Ignorando que pretos ocupam as prisões
Morrem de fome, mesmo tendo uma terra rica
E, ainda assim, tu preferes a surdez

[Estrofe 2]
Eu não condeno a tua inovação
Pois, ela é bem-vinda para a disseminação
Da palavra necessária para autodeterminação
E a negação de qualquer imposição

Por favor, não usa-me para falar da banalidade
Por favor, não usa-me para exibir promiscuidade
Pois, sou ferramenta que pode tirar-te do abismo
E ainda posso afastar-te do vitimismo

Quanta gente morre nas mãos do sistema falhado?
E tu não denuncias, porém, ficas ocupado
Em falar da tua vida em modo exibição
Só para ganhar dinheiro, matando minha reputação

De criar líderes negros engajados na ciência
Há quanto tempo que não praticas a minha essência?
Por que tu gastas tempo a falar do rabo africano?
Se há crimes por denunciar de cada tirano

[Refrão]
Tu sabes quem matou Clark?
Eu não sei
E quem assassinou Amílcar?
Sem comentário
Por que ainda travamos guerras?
Eu não sei
Por que África não desenvolve?
Sem comentário

Mas decoras as falsidades do invasor
Ignorando que pretos ocupam as prisões
Morrem de fome, mesmo tendo uma terra rica
E, ainda assim, tu preferes a surdez

[Estrofe 3]
Tu tens coragem para matar por conta de cifrões
Mas não tens para contestar o resultado das eleições
Que não derrubaram ditaduras que matam o seu povo
Mas, antes da chacina, prometem um mundo novo

Tu não és obrigado em criticar o sistema
Porém, tens que ter vergonha de ignorar o problema
De composições que propagam a autodestruição
E retrata a Deusa Africana como uma aberração

Usa-me para divulgar a tua erudição
E não para se gabar do crime contra o seu irmão
Pois, no início, fui usado como iluminação
Da mente do homem negro que vivia em desolação

Eu sou Hip Hop de verdade
Agora diga-me, por que tu me mataste?
NEGRO