[Letra de: "Sinónimos"]
[Verso 1]
Eu sou um gajo que se baralha por fases
Quanto mais cresço, decresço
Pela vontade de dizer centenas de frases
Eu sei que idades reservam decisões feitas a dois
Estou contigo, mas ainda não decido sem falar pr'os botões
Qual o sinónimo? Eu sei qual o homónimo
É dizermos amor, mas com sentidos pouco próximos
Somos um oposto perfeitamente combinado
Porque nós só concordamos em nunca termos concordado
Eu sempre fugi às regras e prazos
Até daria um espaço no tempo
Se outros tempos não ocupassem tanto espaço
A questão passa por tudo ser baço
Por eu ser mudo e não dar tudo e tu do nada seres um ponto fraco
E de certo modo, posso dar-me por vencido
Pelo teu certo modo maternal de lidares comigo
O destino é duro e não o parto, nele parto
É que quando te afronto num futuro eu conto mais que um parto
Idades fazem parecer isto uma falha
Não é por isso que deves achar que não te ouço enquanto falas
Enquanto falas, desabafas e vês-me como um moço
E no silêncio há um pretexto para eu guardar as mãos no bolso
Pensas que eu não sei de nada, enquanto 'tás deitada?
A alimentar esperanças com a televisão ligada
Não te sentes bem aqui, e sei que serias realizada
A passear em ruas francesas durante a madrugada
O frio apodera-se das frinchas da janela mal fechada
Do espaço entre os dedos pousados entre nada
Dum maço de medos com tabaco lá metido
E tu farta de o amassares de tanto fumares aquilo
O pânico de não 'tares no teu sítio
E vê-lo nos teus arrumos como um peluche antigo
É ingrato como a arte questionar quem somos nós
E o que é hábito é que se devia habituar a nós
Ao contrário do que eu fiz, cá para mim
Às vezes lembro-me de te encontrar quando sempre estive perdido em mim
O apego que a tua pele dita nas mãos com três dezenas de anos
E por três dezenas vamos ressuscitar os ramos?
Seria eterno, as minhas mãos na tua face
Até segurar a tua velhice sem que nenhum dos dois notasse
Não sei se era suposto tu seres sempre o meu encosto
Sem ser preciso fechares-me os olhos por algum desgosto
Não há estilos que nos façam comuns porque isso cansa
E tu não, ao ver-te com os pés descalços enquanto danças
Deito-me e entrego todo esse peso ao sono
Enquanto o cobertor teima com forma do teu corpo
[Refrão]
Não sei porque é que estás
Não sei porque é que vais
E porque não ficas onde eu estou
Não sei porque é que és
E porque não me dizes
E para onde vais eu também vou
[Verso 2]
Saio à noite, confesso, como homem vulnerável
Ao sexo, tipicamente perverso
Só que noite é uma loja de brinquedos, compras bonecas lindas
Com a pinta, mas pontaria só vê garantia de dois anos
E antes há uma série de planos que não passam de enganos
E ultrapassam a burrice de nos apaixonarmos
Brindam os copos para pingar os corpos
E depois põem-te em qualquer lado
E eu tenho quarto, obrigado
"Acabaste há quanto tempo? Quem foi essa pessoa?"
E deviam conhecer-te quando falo na primeira pessoa
A base da sedução não é a base da solução
Porque elas puxam tensão para quem só quer atenção
Enlouqueço nessa luta, passo a ter tantos nomes
Que a minha escuta disputa com a voz de dentro por mexer no teu nome
Desculpa não o ter previsto
É porque o teu nome existo enquanto alucino ou enquanto elucido
Não falo à toa, antes tivesse acostumado
Tiraram-me dez mil palavras para não ser bom namorado
Egoísta? Nem tanto por parecer cagar p'a tudo
Eu salvo primeiro os meus antes de querer salvar o mundo
Tenho as minhas tripes e vivo numa postura
Moldei o meu rosto ao teu em vez de pô-los numa moldura
Não te disse amo-te mil vezes, não foi por ser incapaz
Quanto mais se trabalha menos tempo há p'a dizer o quanto se faz
Eu trabalhei no meu espaço
E sabes que eu não sou o macho que se alimenta da mulher pelo tacho
Eu curtia ver uma casa T2 para começar
Ou escolher um compromisso sem apontar com o anelar, para já
Sozinho, tudo o que eu sou é posto à prova
E quando perco o fôlego não te vejo a dar-me as dobras
Eu optei por ficares ausente
Contra factos não há argumentos
E de facto esse é o meu argumento
E o mesmo podia ser mudado, mas eu sou pouco exato
Por querer milhares de cenas e a resposta ser sempre "exato"
Exato, o que nos une nunca foi óbvio
Somos dois contrários que sempre foram sinónimos
Funcionais como a TV com preto e branco
Distantes um do outro, mas precisam-se entre si
E no entanto encaixam por razões boas ou más
O importante não é o que o amor traz, é quem o traz
[Refrão]
Não sei porque é que estás
Não sei porque é que vais
E porque não ficas onde eu estou
Não sei porque é que és
E porque não me dizes
E para onde vais eu também vou
Sinónimos was written by Johnny Virtus.
Sinónimos was produced by Johnny Virtus.
Johnny Virtus released Sinónimos on Sun Jan 01 2012.