O tempo tem lá dentro uma espiral
Uma espiral que se chama história
E que num andar natural
E por força de vontade
Resolveu ter um capricho
Chamado liberdade
Tão material
Como qualquer planeta
Num constante movimento
Em harmonia universal
A história tem lá dentro um mecanismo
Habitado por homens tão diferentes
E que me perdoem o aforismo
Se os mais pobres da nação
Resolveram ter um desejo
Chamado revolução
Acto imortal
De quem torce o rumo à vida
Arrasando baionetas
Na direcção sideral
Em todo o espaço-tempo percorrido
Se encontra a inteligência criadora
E que no corpo do oprimido
Forja a ideia e o canhão
Contra o tirano e o ludíbrio
Também chamado traição
É mandarete
“no tiroteio de banquetes”
Onde se enfeitam burlões
“com discursos e foguetes”
E eu a querer-te cantar
Com afecto e sentimento
A harmonia em tom menor
Num compasso mais lento
Mas o amargo vem à boca
Vingador
Como disse o escritor
“isto dá vontade de morrer”
Se eles te matam atam
A gente luta labuta
E até apetece viver
Quando existe coragem à mão cheia
Recordo a Maria da Fonte
Ainda mais a Patuleia
Que num passo popular
Conquistou vale e montanha
Para se perder no mar
Numa traição
De tribunos setembristas
Que da revolta venderam
A alma e o coração
Se a história é longa e nunca se repete
Tem pelo menos algo semelhante
E à consciência é que compete
Saber quantos “liberais”
Entram a matar Abril
Tal qual ontem os Cabrais
São rabanetes
De ceias à americana
Com a liberdade a juros
Custeando beberetes
E eu a querer-te cantar...
Por Falar Em Tempo was written by Fausto.
Por Falar Em Tempo was produced by Fausto.
Fausto released Por Falar Em Tempo on Tue Nov 06 1979.