[Verso 1]
Fartura, no mundo material
A febre continua
Flashing lights, fama, sexo
Eu detesto vernissage, cavalo de fuga
De Nike e de Lacoste
Numa névoa densa de cineastas mortos
Violência e performance
Deuses canibais, vermelho Godard
Sina e sinopse
A vida inteira eu quis um verso sintético
Amar mulheres, me sentir vivo
A vida tem sido cruel comigo
Menor, tô cinza, é muita bad vibe
Cavalo de batalha, um duplo do Van Gogh
Eu tô ligando o foda-se
Ouvindo Confessions on a Dance Floor
Tô de pеrfume Bvlgari
E continuo lendo Michel Foucault
[Verso 2]
Eu vou mе levantar, lançar uma Caloi Confort
Vou em chamar ela pra ver o novo do Almodovar
Em algum cinema em Botafogo
Bagulho de hype acaba com meu estômago
Eu perdi o sono mais uma noite
Pra que seja visto por todos
Londres, Paris, Roma, Manhattan, Recife
Gás lacrimogêneo e crianças chorando
Talheres de prata, arquitetura gótica, pérolas de plástico
Eu andei por escombros, eu andei pela Augusta
Eu vi pinturas e esculturas no MASP
Hoje eu sou raridade na história da arte
Com mil camadas de metalinguagem
Ouço Madonna e ligo o foda-se
Irremissível, intempestivo, uma dose de crueldade
Sonhos, chuva, cinza, claro, intransponível