Oh! Marcolino
Sempre a gritar
Longos pregões
Sem descansar
Diz Marcolino
Então que fazes tu?
Afio navalhas facas
E outras coisas mais
Objectos de uso vulgar
Mas que também podem ser fatais
Limpo chaminés e arranjo os vossos jardins
Mas quando preciso e posso
Também assalto os vossos quintais
Oh! Marcolino
Das longas viagens
Diz Marcolino
Se outra vida tiveste
O que fizeste
E o que te fez mudar?
Já fui camponês soldado
E a vida foi sempre igual
Lnsultei patrões oficiais
E nunca me senti mal
Ganhava pouco fome de cão
E enchia a pança aos canibais (e ainda encho)
Fui sempre indisciplinado pois claro
Que outra coisa posso ser então?
Oh! Marcolino
Das longas viagens
Da rosa dos ventos
Com direcção
Diz Marcolino
O que já viste então?
Vi um patrão fugir
Ao som duma explosão
Vi uma cadela com dores
Parindo polícias com cabeças de cão
Contra a tese de certos doutores
Vi um povo de armas na mão
E um padre a gritar socorro
Ai! ai! que me cortam o coração
Oh! Marcolino
Sem medo da morte
Com o teu braço forte
O que vais tu fazer
Diz Marcolino
Tens algo a perder?
A perder nada tenho
Talvez a vida... tanto faz
Na vida tenho a ganhar lutando
Sózinho é que não sou capaz
Mas há muitos como eu
Mesmo centenas de milhares
Dispostos a lutar e vencer
Tudo para a frente e nunca para trás