Madrugada, hora velha
E cansada, amena
Os deuses dormem tranquilos
O sono da inexistência
Nos olhos apagados da cidade
Ainda hoje serão vivos
Ainda hoje recriados na memória
Mas não agora que a madrugada
É toda feita de cansaço
À mesma hora na metade clara do planeta
Numa qualquer esquina
Numa qualquer cidade
Onde o tempo não tem fome nem idade
Ele lia o jornal
Ela parou
Um dos dois olhou
"O casamento é muitas vezes anúncio de jornal:
Senhora nova deseja conhecer cavalheiro inteligente
Culto, de boas famílias e situação financeira estável
Guarda-se o máximo de sigilo"
Ele lia o jornal
O sinal mudou
Ela atravessou
Num adeus final
"Estados Unidos da América:
Cientistas afirmam que as explorações espaciais levarão ao progresso do mundo e às portas do céu"
E eu estou aqui sentado
Pensando que seria bom
Não ser um homem tranquilo, cansado
Obrigado a inventar a noite
Que bate o ritmo dos dias no coração do tempo
E no meio da noite uma ameaça traz-lhe a cada hora uma traição
E no meio da noite uma ameaça traz-lhe a cada hora uma traição
E no meio da noite uma ameaça traz-lhe a cada hora uma traição
E no meio da noite uma ameaça traz-lhe a cada hora uma traição
E no meio da noite uma ameaça traz-lhe a cada hora uma traição
E no meio da noite uma ameaça traz-lhe a cada hora uma traição