Ilumina o Meu Caminho

[Letra de "Ilumina o Meu Caminho"]

[Verso 1]
Nunca conheci os meus avós, eu vim da África, ainda era miúdo
Memórias que eu tenho é de tiros e tudo escuro
Vim para a tuga com dois, fiz três no avião
Acolhidos pelo meu tio numa casa sem condição
Vivíamos num T1, cerca de três famílias
Dez pessoas numa sala entre irmãos, tios e primas
Nada demais, era a vida de imigrante
Os meus pais saíam cedo e desde cedo lhes vi distantes
Lá conseguimos uma casa numa aldeia
Era isso ou continuar a saltar entre guetos
A casa era igual, era mais um T1
Mas era só mais um espaço difеrente de outro algum
O trabalho continua a sеr repartido
Raramente via os dois cotas no mesmo cúbico
Tudo em prol de um futuro para nós, as crianças
Por isso que eu posso dizer que a vocês eu dou graças

[Refrão]
A dor de uma perda dizem que o tempo apaga
Mas o que fazer quando tem recheio de mágoa
Nunca fomos chegados e eu sinto sozinho
Eu peço a Deus que ilumine o meu caminho
A dor de uma perda dizem que o tempo apaga
Mas o que fazer quando tem recheio de mágoa
Nunca fomos chegados e eu sinto sozinho
Eu peço a Deus que ilumine o meu caminho

[Verso 2]
Viemos para Odivelas, fruto do vosso trabalho
Estamos num T3, cada um no seu quarto
Coisas simples na altura, mas um gajo espanta
Cúbicos em prédios com marquise e varanda
Cenas simples agora naquele tempo era conquista
Mas os velhos cansados para manter a guita
Necessária para viver no meio da cidade
Roupas para a school e pagar a mensalidade
Comida, pó, cúbico, água luz e gás
Combustível para o bote e passe para os rapazes
Chegou uma altura que a cota flipou
Disseram que era depressão, mas eu sei que era dor
Muitos anos a viver com uma pressão superior
De fazer tudo igual, mas ser tratada como inferior
O meu cota sentiu o mesmo quando entrou na reforma
Já não vivíamos juntos, mas eu via a reforma
Fizemos funeral, mas a cota não tava good
Fechada no quarto a fazer o engodo
Ainda aguentou mais uns anos, mas não 'tava normal
Em dezembro ela foi encontrá-lo