[Verso 1]
O mar enrola na areia ninguém sabe o que ele diz
Sussurra velhas glórias vitórias do meu país
Contam-me contos de outrora de grandes feitos
Donos de tantos reinos só sobram sonhos desfeitos
Por cá estão satisfeitos, pretéritos perfeitos
Estão passados esquecidos nos perdidos e achados
Somos filhos mal amados
Ou somos só bastardos dessa valentia
Foi-se a imortalidade sobrou a apatia
O cheiro da maresia, fatalismo lusitano
Deveras tão divino, deveras tão profano
De um jeito genuíno, ingénuo de ver vida
À espera que o mar nos traga ao ponto da partida
Heróis não têm nome, nem naus ou caravelas
Não tem lendas nem gravuras em obras tão belas
Não há memórias de bravuras impossíveis
Na terra das histórias invisíveis
[Refrão]
Só ficam as historias daquilo que eu nunca vi...
Ficam as memórias do que nunca conheci
Mas eu sou, tu és, a personagem principal
Mas eu sei tu também que o herói vive dentro de ti
[Verso 2]
Heróis não têm bandas desenhadas
Nem capas, figuram em vidas conturbadas
Não vivem em castelos com espadas encantadas
Trabalham com martelos nas calçadas
São parte da cidade, onde raramente mudam as caras
Onde a chuva lava as velhas fachadas
São rotinas cruzadas, marcadas pelo tempo
Levadas pelo vento, perpétuo sofrimento
Mas afinal quem somos?
Tão pequenos em tamanha grandeza
É com certeza uma casa portuguesa
A pátria deixou despesa, e deu me um bilhete de ida
E o D. Sebastião ficou terra prometida
Eu hoje tou de partida, vou para lugar incerto
Estou certo de onde vim mas não sei pra onde vou
Cá ficam os heróis, que o vento não levou
À espera dos heróis de que o tempo não poupou
[Refrão]
Só ficam as historias daquilo que eu nunca vi...
Ficam as memórias do que nunca conheci
Mas eu sou, tu és, a personagem principal
Mas eu sei tu também que o herói vive dentro de ti