Fragmentos da Sebenta

[Verso 1]
Espeta essa caneta na cassete e rebobina
Tempos que isto era subcultura subversiva
O que existia consumia em sobredose
Líricas a roda na mona em hipnose
Vozes do povo entoavam esgoto fora
E eu com aquela gana de representar a minha zona
Seguidor incansável de poetas de esquina
Que traziam aquela ira sócio-interventiva
Era o que batia puro e duro som de bairro
Sem enfeite nem show-off o mercado estava fechado
Tudo pela cultura muito mais sentimento
O importante era por a mensagem em movimento
Pelos phones dentro
Roka Forte, Informação ao Núcleo
Sobretudo a verdade acompanharam-me desde puto
Queria entrar no circuito cuspia mas sem assunto
Na boa lá ia circulando o meu produto
Bebendo da fonte noventas novo milénio
Respeitando os arquitectos deste hiphoprédio
Morto profetizou nas mas para mim nunca jaze
O guru enquanto ouvir os volumes de Jazzmatazz
Faz como quiseres eu faço o mesmo sendo o mesmo
Mas não dá para conter o saudosismo
De quando o conteúdo lírico e a intenção
Se sobrepunham ao aparato e ostentação

[Refrão]
De aparelho ao ombro vou acordo bloco todo
Naquela ambiência anos 90
Atiça a tua sativa e abana pescoço
Enquanto eu te dou fragmentos da sebenta

[Verso 2]
Por mais que o tempo passe e sabendo que tudo muda
Nada apaga um Valete no fim da ditadura
Aquela poesia urbana em loop toda a semana
Sacudindo o crânio até ficar ourado
Rimas de el dorado vinham mensagens douro
Até tive que comprar um dicionário de bolso
A pouco e pouco ritmo envolvia o saber
Bairristas eloquentes na arte de bem dizer
Dá pra entender não dá pra te explicar
Estudava a cultura programa extra-curricular
Viajar atrás no tempo ver como tudo inicia
Com Kool Herc numa block-party nova yorkina
Mas já era sina ver o castelo ruir
Perder o respeito no micro com a pasta a surgir
Ainda assim ainda existe quem mantenha
Patente no registo toda a raiz da cena

[Refrão]
De aparelho ao ombro vou acordo bloco todo
Naquela ambiência anos 90
Atiça a tua sativa e abana pescoço
Enquanto eu te dou fragmentos da sebenta