Cantor maldito cantor
Ainda mais maldito sejas
Pelo malhar do teu tambor
P'la tua canção sibilina
Anopheles de latrinas
Ébria de copos toldada
A tua voz luciferina
Metal pesado
Dioxinas pelo ar
Tu és um metal pesado
Misantropo titular
Sonhas com sonhos de Marx
Lá está
E Bakunine em namoricos também
Benzidos por São Domingos senhor
Por Saint-Simon e São Francisco
Hipocondríaco febril a ferver
Febril o teu neurónio tórrido a arder
E então
Claustrófobo ontem
Agoráfobo hoje
E amanhã a fingir que morrias
Fraco poeta
Mascarado de asceta
Açaimado
Hás de pagá-las
Cão danado
Mas se de empregos não se fala
Pois se eu já nem crio empregos
Mais sou da Troika e da Cabala
Nas vermelhas acusações
Sou da gamela dos venais
Burocrata financeiro
De riquezas imateriais
E mais se fala
Se ao criar criando empregos
De exploração mais se fala
Do suor dos tais labregos
Da força do trabalho intenso
Lá está
Larápio então de mais valias também
Que hei de eu fazer
Valha-me Deus senhor
Fazem grego ou da Turquia
Também eu tenho pena dos operários
Trabalham tanto que não têm horários
E então
Nem tem nem cheiro
Para ganharem dinheiro
Mais indigentes são estes salafrários
Na gatunice às escuras
A dormir pelas ruas
Empanturrados p'la sopa dos pobres
Consolados
P'ralém de tudo sou anarca
Um anarco-capitalista
Se o meu sonho mais abarca
Um Estado que se arruína
Outro a morrer de providências
Dinheiros lançados ao ar
Minhas sinceras condolências
Muito comuna
Mas muito pouco proletário
Sempre foste muito comuna
De bolso cheio em monetário
Bebendo em copos de Gambrinus
Lá está
Serviços em pratos de Pabe também
Que é feito do tal franciscano senhor
Do padre, frade ou do abade
Se a caridade é mais do que obrigação
Dever moral dos mais sagrados a haver
E então
Sem pobres famintos, pedintes, aflitos
Que seria da caridade a morrer
Em sociedades mais justas
Mais faltam outras injustas
P'ra que se faça e se viva o bem-fazer
Piedades em doses alternativas