[Letra de "Dr.?"]
[Verso 1]
Alguém me arranja um médico?
Não se brinca com a saude mas rir é o melhor remédio
A morrer de tédio arrasto corpo para borda dum prédio
Quero golfa-lo na pedra todo torto e falo sério
Mas o que é dito é que isto pode ser o édipo
E eu nem vou estar cá para contar o meu óbito
O hábito é trágico: abraço o medo e escrevo imenso
Intenso, amasso, gravo, apago e por fim endoideço
Assim eu penso. Já não sei se vou durar
Amor, eu vejo a dor e pior, estou adorar
Estou a aderir e à deriva como um louco
Outro copo e entretanto tonto entorno tanto tinto, sabе a pouco
Fica com o troco, estou habituado ao nada
A arte é dada mas credo porquе é que só assim s’agrada
Não me agrego a isto, óbvio que estou mal
A explicar que dominante não é sinónimo de normal
Alguém me disse que sonhos não morrem
Mas passou o tempo e fiquei sem nenhum
O meu pai disse que as minorias sofrem
Mas ele não sabe o que eu passei quando tentei ser comum
É um certo que um dia lhe vou dar razão
Mas até la padeço mais um pouco
Mais um grito, mais sufoco, mais um beat, vai estou rouco
Mais um verso e abandono sa’foda acabou o pro bono
Sonho parvo e eu no quarto deitado sem sono
Farto queixo me da dor, cala-me tons
Estraguei sons por amor e amor por sons
Até ficaram bons pra mim, tenho umas quantas rimas extintas
Rap é gastar canetas para ouvintes estarem nas tintas
Às tantas penso quem sou ou o que faço aqui
Respostas estão neste som ou vou escrever outro a seguir?
E se eu não conseguir voltar ao antigamente
Alguém me diga mesmo que esta dor se apaga com um medicamento
[Bridge]
Recordações só aproximam o passado
Preso ao tempo e o karma quer que eu pague caro
[Verso 2]
Sentado e sem incentivo, supor foi o que sempre estive
A fazer para que o verso tenha dor ou seja extensivo
Crise existencial vive, um sortudo do sortido
A escrever sobre amor sem nunca o ter sentido
Ainda achas que sei tudo? Até génios tremem falas
Mas eu vi que há alma gémeas e há gémeas falsas
Lá na casa eu fui quem vestiu as calças
Tu baixas-te as tuas a outros e ainda fizeste ameaças?!
Eu dormi tanto nessas bocas podres, oh pah foda-se
Se eu pagar por elas eu vou comprar todas
Só para escrever o som chamado “Ajustar contas”
Gastar tudo, sobra um tusto. Às tantas estou maluco a dar milho pombas
Dei pérolas a porcos não comeram
Prometeram-me um futuro e não me deram
Por isso não me digam que se acreditar, existe
Todos te querem ver bem mas quantos fazem por isso?
O meu ex disse “hoje bora jantar”
Para perceber que depois de mim ele já fodeu, como não adorar?
Soma e segue, sumo cego sempre a mesma saga
Preencher vazio com vazio dos outros sempre a mesma foda
Vários corpos, tantos copos e a companhia?
Na sala roda-se weed, branca, g, keta, tina
Quem atina neste globo também vai sangrando
O teu dia corre bem? No meu vai-se andando
Com enganos conto quantos é que estão perto
Porque eles só amam o teu som até pagarem para concerto
Sem a guest não vão mas querem foto contigo
E se tu cheirares sucesso eles estavam lá no início
Acaba o panegírico, baixa o pano e giro o cu
Para cama onde construí os pesadelos deste mundo
Dá-me vinho e como o xtinto, bebo tudo desde que o
Efeito bata e que me arraste até ao fundo, só mais um minuto