Na terra de pescador cada um colhe o seu peixe
Através do seu suor esta é a história que deixo
Desde de quem passou o tempo a alimentar o berço
E a poupar alguns centavos para fugir ao despejo
Quem enganou Salazar
Para encobrir o medo de cair na fortaleza sem cabeça, sem segredos
Dizem que a liberdade não tem preço
Mas pesa na consciência de quem já lá 'teve dentro
A todo o preso que teve que largar o terço
Vivendo isoladamente sobre o violente peso
A sombra que temos presente dentro de becos escondidos
Escondem sementes em prol dos seus parentes falecidos
Neste solo não fica somente o cimento
E estas pedras de calçada não carregam o esquecimento
Escorrega pelas paredes o sangue e o sofrimento
Causados pelos castigos da PID que ia comendo
O grande ingrediente que o povo ia escondendo
Alimentando de nozes quem cá nunca teve dentes
O rosto dos teus avós, voz dos descendentes
Deixam um nó no silêncio deste povo tão pequeno
Unimos por dois pólos toda esta nossa gente
Desde Peniche de Cima até à zona do centro
Bairro dos Pescadores
Prageira, Campo da Torre
E as primeiras casas construídas pelos moradores
Prédios e barracões
Do Calvário ao Camões, P3, Vila Maria, Lapadusso e Visconde
Entre mais onde esta habitação foi crescendo
Encontrando uma forma de viver
Marido está no mar e a sua mulher na fábrica
O trabalho é fodido mas é uma questão de prática
Filha queria ser professora de matemática
Mas não havia meios com as contas lá de casa
Filho já trabalha com 8 anos de idade
Ajudava o pai com as redes para o seu barco
Vendia o peixe do pai na praça a preço barato
P'ra que o dinheiro em casa desse p'ra ter tudo pago
Por outro lado, na guerra onde eram chamados
Mulher dona de casa espera pelo seu soldado
Com uma saudade eterna de perca a quem ficou
Mais um herói na batalha por quem o glorificou
À sua medalha honrada pela pátria ganhou
Uma memória malvada que ninguém a tirou
Entre os revolucionários e os capitães de Abril
Em 74 marcam entre o cravo e o vinil
Grândola Vila Morena em plenas ruas pequenas
Seguiam em marcha lenta uma tropa portuguesa
E até à fortaleza onde a história permanece
E com a sua historia fortalece
Todos os naufrágios e fugas que são contadas
Deixo-vos o rasto de todas estas pegadas
Dadas entre bilros e mitos que viram lendas
Como as pardelas escondidas pelas Berlengas
Como ver centenas de surfistas nesta onda
Todos eles numa busca do tesouro da Papôa
Então dá-me esta bandeira quando um dia eu morrer
Eu serei de Peniche se eu voltar a nascer
Topo released DESCENDENTES on Sun Apr 12 2020.