Descendência

[Verso]
Agora sim
Tentei me abster do fim
Mas descobri que quem vive pra sempre não vive e enfim
Do início ao fim foi luta
Escapar dessa conduta de fuga é negar ajuda
Quem pediu ela pra mim?
Dissertação é geralmente difícil de começar
Mas no caso, a ânsia foi tanta que só faltou eu vomitar
Eu vou regurgitar as palavras
Estética, métrica, mágica
Verdade tão fétida
Que as mentes sai enjoada
A verdade que é fétida
A verdade e a fé te dá asas
Tantas vendas
Se falta um palmo emenda
Segue a jornada
De alma bem dita ou bendita luz
Te faz pisar na fenda
Toma cuidado com a tua fé, ao ser transformada em venda
A rima corre no corte como sangue da vala
A água do furo, pinga, desliza e inunda minha casa
E intermitente, meu repente repassa o compasso do gotejamento
Eu to pensando pra onde essa água vai com todo esse cimento
A pia tá cheia de louça, roupa pra ser lavada
Cama virou armário e a grana que tá travada
Pra entrar, pula o portão, só vejo cinza no aquarela
Favela, só é bonita quando é exibida e não mostrada
Sente a brisa dos helipa
Que apara mais que pipa
Onde o sol nasce atrasado pra não iluminar a chacina
Onde morrer de "morte morrida" é dito um milagre
Bomba patch, Fifa Street, é só pra aliviar o baque
Formatura?
É tênue a dura camada que separa a assinatura da sina dura
Da rataria ria, policia que mata
E é só de saca
Preto correndo não é pressa: pretexto pra tomar bala, né
Vocabulário não falta
Gíria nem ginga
Cresci [?], capoeira com malícia
Só devo vida a minha Mama África
Que pra ser mais África, só tendo as marcas da chibata
É foda ser tão grande e ao mesmo tempo ser tão pouco
Fui cantar pro meu jardim, e a floresta inteira pegou fogo
Fui contar meu eu pra mim, e acabei ficando louco
Fui escrever uma biografia, escrevi o mundo todo
Descendência