[Verso 1]
Habito entre animais noturnos
Cuidado pois às vezes são soturnos
Belos como os anéis de Saturno
Mas conviver com eles pode ser tão duro
Tá em dúvida? Não aguarde seu turno
A vida não é um sopro, a vida é um pulo
Curva acentuada e de final abrupto
Bruto é o surto quando nota-se o escuro
Breu mais puro, gritos viram sussurros
O modo que dialogamos é tão chulo
Nossos desentendimentos são tão burros
Me geram na barriga um embrulho
Imbróglio sem fim é entulho
Prosear em paz é pedir muito?
Se tá ruim demais minha dor eu enclausuro
Porque saudade é pior que tudo
Solidão quando bate, o buraco é bem mais fundo
[Verso 2]
Não quis que parecesse insulto
Muito menos como um pedido de truco
É que as palavras complicam tudo
E eu me recuso a dizer que juro
Esse verbo me faz sentir tão sujo
Dentre tantos outros obscenos que uso
Talvez sinta isso por um medo oculto
Será que sou suspeito por amar meu vulgo?
Eu luto pra não ser um vulto
Por isso aprecio um bom tumulto
Sou péssimo em lidar com o luto
Pelo menos aos olhos do mundo adulto
Nessa viagem tô sempre sem rumo
Gosto de andar nos cantos obscuros
Observo por cima dos muros
Pra mim ta bem claro o caos é absoluto