Contratempos

Tem que ser o dobro pra julgar minhas metades
Tem que resistir geral, pra censurar minha identidade
Tem que ser fácil pra sussurrar minha fragilidade
Nem sendo transparente descreve minha intensidade

Nossos dias são paredes, as rotinas são pregos
Decaimento a moldura, o sonho é a paisagem
Acreditei no espelho quando me enxerguei cego
E hoje minha retina já não transparece medo

Já riram da minha cara por tanto andar descalço
Porém não perceberam que a maldade é o que nos calça
Todos são os nossos dias, matem a caça
Arregacem as mangas e preparem-se pra causar

Fica ai sem fazer nada
Aquele que não nada afunda
Eu correr na direção contrária?
Fragmentar meu sonho nunca

Nunca que um homem de verdade se corromperá
O que transformei em inferno é o que eles verão
Meu verão te causou um inverno interno
E o que eu tenho de melhor, só as primaveras

De tanta vontade de encher as canecas se esvaziam
E de tanto gelo nossas bocas queimam
Eu vendo liberdade em noite, quer uma?
Olha aos arredores, cuidado, karma

Daqui não saiu um atleta, mas são todos corredores
Enquanto andam em círculos, peço para que vão
Nem temo a morte, a vida e seus corredores
Erros e seus corretores, to rente ao vão

Já burlei isso então acostuma e consuma
Tape os ouvidos ou adentre a meus volumes
Substituível, era mortal suas rasuras
E como costuras, rasguei todos os seus costumes

O incenso já substituiu o seu perfume
A vida inteira passando, brincamos de momentos
Não te vi, porque pisquei diante vagalumes
E foram apenas contras que concluíram meus tempos

Aquele que faz, ganha o mundo
O dia é inteiramente dono do anoitecer
A pele que possuiu cortes profundos
Tudo é questionável, nada cabe no saber

De muita coisa, resulta em ignorância
E cada ignorância resulta num novo início
E a cada início, um vício por substância
E de toda irrelevância, motivo pra suicídio