Ainda não percebi em que dia alterei o percurso da história
Em que momento mudei e me afundei nesta casa ilusória
Quando matei o meu nome e inventei esta persona
Que me salvou mas me condenou à existência inglória
Em criança eu pensava que era normal em tudo
Mas assustava-me não conseguir ver para o futuro
Hoje apercebo-me da explicação desse tumulto
Por muito que envelheça nunca me vou tornar adulto
Recuso-me a aceitar que a idade me feche num casulo
A minha mãe sofre e eu sei que é por causa disto
Ela revê-se em mim mas odeia quando insisto
Que foi dela que herdei a demência e o desequilíbrio
Com o meu pai nunca me consegui relacionar bem
Ele tem bom coração e ele sabe que eu sei
Mas nunca conversamos porque eu sempre rejeitei
Deixar qualquer um deles perceber o que já passei
Os meus amigos dizem que eu não sou normal
Mas há algo que me impede dessa aproximação pessoal
Um dia vou-lhes escrever uma carta, não, um livro
Explicar-lhes de uma só vez o porquê de nunca lhes ter dito
O que me ocupa, o que sou, quem conheço, onde vivo
E pedir-lhes que o queimem depois de o terem lido
O meu irmão tem uma tolerância excepcional comigo
Acho que ele conhece o demónio que me corrói desde menino
Só percebi muito mais tarde o quão era esquisito
Ir para a rua mas preferir brincar sozinho
Falar com os cães e acreditar ser ouvido
E achar que os 8 bits eram iguais ao mundo fisico
Quando fui para a escola..foi um choque
Estar na sala de aula era como estar num caixote
Era inteligente, tinha boas notas
Mas não percebia porque é que não podia descalçar as botas
Na quarta classe chegou à turma uma miúda nova
Excluída à partida, apaixonei-me pela fora de norma
E esse amor na génese nunca mudou até agora
Não há desgosto que normalize a direcção da minha seta
Uma vez parti um braço quando caí da bicicleta
Só levei uma reguada, uma vez andei à porrada
Uma vez a minha mãe fingiu que me abandonou na estrada
Fiz exércitos e exércitos de bonecos de plasticina
Nunca fui de férias de Verão mas fui de férias da vida
Quatro anos de depressão sem sair de casa de dia
Já recuperei mas a noite ainda me suspira
Dos anos antes de ti só tenho memórias fugidias
Descobri a má vida, viciei-me na cafeína
Estive em belas artes onde nunca me senti artista
O que só me confirmou aquilo que eu já sabia
Ensinam-se conhecimentos mas arte não se ensina!
As luzes estão apagadas, o silêncio paralisa
Este sufoco nega-me sede, o silêncio arrepia
As lâmpadas estão partidas e eu grito em surdina
Nesta Caixa de Vidro, respiro asfixia
As luzes estão apagadas, o silêncio paralisa
Este sufoco nega-me sede, o silêncio arrepia
As lâmpadas estão partidas e eu grito em surdina
Nesta Caixa de Vidro, respirei toda a vida...
Caixa de Vidro was written by Stray (PRT).
Caixa de Vidro was produced by Taseh.
Stray (PRT) released Caixa de Vidro on Mon Jan 31 2011.