Cada Linha uma História

[Verso 1: Thiagão]
Direto me perguntam por que eu dou pouca risada
Papo reto, meu parça, muita coisa eu nem acho engraçada
Fazer piada com Maradona, com Casagrande, Fábio Assunção
Como se fosse engraçado essa situação da escravidão
Os escravo da lata, do pó, os tiozinho chapado
Os com a bala alojada, usando fralda, a vida inteira sentado
A mãe prostituta dá um beijo no filho e vai trabalhar
Um que saiu de Guaíra com o carro cheio de cigarro
Tá preso em Goiás, sem ninguém visitar
Não vou rir da desgraça dos outros, eu tô em alto mar
Muitas vezes, pisando onde poucos tão querendo pisar
Sem camarim, sem cachê, com o coração na ponta do anzol pra pescar
O ano inteiro, nas vila, nas cеla, nas praça
De cara a cara com a rapa-pa
Punchline, lírica e flow é a partе mais fácil do rap, djow
É sem prêmio na MTV, Multishow
Nas cadeia que canto, não saio na Globo
Minha vida não é um show (ai se fosse!)
Fora do palco tem mano chorando porque o filhinho quer um doce
Filma lá o Kanye West nas cadeia norte-americana
E esquece que aqui na arena
Nós 'tamo de ala em ala falando com cada ladrão
Que 'tamo nas favela, não é só no Natal e Dia das Crianças
Que 'tamo nadando com os tubarão, cara a cara com a facção
É pregando Jesus que eu sigo, quer chamar de careta, chama aí
Quer falar? Pode falar, internet é a terra sem lei
Tem que ter argumento, aprendi desde moleque, meu rei
Conversa fiada é fei, conversa fiada é fei
Papo fiado é vacilo, até onde eu sei
Sou pelo rap, sou por vocês
Cada palavra é pensada, pensada, pensada
Se não for pra somar, aprendi
É melhor eu ficar com a minha boca calada
Mas aprendi a apontar pra um futuro melhor
Se é pro moleque seguir uma carreira
É melhor que não seja a carreira de pó, ó (que não seja a carreira de pó)

[Refrão: Nocivo Shomon]
Olho por olho, dente por dente
Cheio de ódio, o povo morre mudo
Investe no corpo, esquece da mente
Entre o vazio e o conteúdo
Olho por olho, dente por dente
Cheio de ódio, o povo morre mudo
Investe no corpo, esquece da mente
Entre o vazio e o conteúdo

[Verso 2: Nocivo Shomon]
Estamos tão focados em ganhar dinheiro
Que estamos cada vez mais distantes do amor
O tempo é precioso, também é passageiro
E nossa diversão sempre causará a dor
Sou parte dos problemas, caminho entre os mortos
Achando que são vivos, zumbis em corpos tortos
Uma gota de mentira traz um rio de maldade
Será que tanto dinheiro vai comprar felicidade?
Futilidade em quantidade, sem verdade no que eu vejo
Só pra mediocridade, infidelidade, desejo
A lâmina do errado se afia
Difícil é ser amado onde ninguém confia
Cidade fria procede sem proceder
Descolado é quem trai, ser fiel é démodé
Nosso valor se perder, eu vi o rap ceder
A ideologia apagar e o som vazio ascender
Quem paga pra vender? Quem domina o mercado?
Qual espaço é conquistado? Views e sucesso comprado
Tá tudo dominado, até o rap contaminado
Tô tipo em campo minado, tem inimigo pra todo lado
Som sem qualidade, ostentando no quilate
Enquanto ela me morde, eu vejo o cão que late
Só fábrica de cópia, moda, nada criativo
O flow foda no estúdio que desaparece ao vivo
Eu quero que se f- essa mídia comprada
Na net ganha tudo, no show não canta nada
Sem cultura na rua, pelo din, boca é calada
Tua revolta contra os boys tá lotando outra balada
Sangue em cada linha, com a caneta derramo
Longe do jogo do rap e perto de quem eu amo
Declamo poesia lapidada no cimento
Nem melhor, nem pior, é rap de sentimento

[Refrão: Nocivo Shomon]
Olho por olho, dente por dente
Cheio de ódio, o povo morre mudo
Investe no corpo, esquece da mente
Entre o vazio e o conteúdo
Olho por olho, dente por dente
Cheio de ódio, o povo morre mudo
Investe no corpo, esquece da mente
Entre o vazio e o conteúdo