Sérgio Godinho
Sérgio Godinho
Sérgio Godinho
Sérgio Godinho
Sérgio Godinho
Sérgio Godinho
Sérgio Godinho
Sérgio Godinho
Sérgio Godinho
Sérgio Godinho
Sérgio Godinho
Se eu fosse mal educado
Dizia que é muito feio
Construir o socialismo
Com fascistas de permeio
Mas como não sou, eu fico
Cego, surdo, mudo e quedo
A repetir uma história
Sem lhe saber o enredo
Por falar em socialismo
Lá porque alguém o apregoa
Não quer dizer que não esteja
A dizer coisas à toa
E lá porque alguém nos fala
Também em revolução
Não quer dizer que não esteja
A vender lobo por cão
Eh lá bico calado
Muita coisa para dizer
Eh lá bico calado
Muita luta para vencer
Tenho bichos carpinteiros
Não consigo ficar quieto
Meto-me no que não devo
No que devo não me meto
Não consigo ficar quieto
Devo estar mas é doente
Quanto mais ando para trás
Mais quero andar para a frente
E quando olho para a frente
Vejo um oftalmologista
Que me atira areia aos olhos
E que tem poeira na vista
É que ao olhar para isto tudo
Há dois olhares bem distintos
O dos que vivem à larga
E o dos que apertam os cintos
Chamo as coisas pelo nome
Pão é pão e queijo é queijo
Fome é fome e povo é povo
Saúde é que eu vos desejo
E se comeste hoje a carne
Amanhã róis o osso
Se comeste ontem a ameixa
Hoje chupas o caroço
E por falar em comida
Voltemos à vaca fria
Será que a boca do lobo
Já não morde como mordia?
Ou será que já voltamos
À pureza inicial
Em que o lobo ainda era
Um encanto de animal?
Eh lá bico calado
Muita coisa para dizer
Eh lá, bico calado
Muita luta para vencer