[Verso 1]
2011, semana académica de Faro
'Tou dentro dos camarins não paro de fumar cigarros
É o meu primeiro concerto desde ’99
Nunca 'tive assim tão tenso, nervosismo intenso
O M pergunta-me se 'tá tudo bem
Eu digo-lhe que ’tá tudo ok, mas claro que não o convenço
Passa-me um iPod com sons de Beto de Chelas
Albuns de [?], Young Fellas e Nell Assassin
Ando de uma sala 'pa outra sala a ver se a tensão se exala
Da mala tiro uma garrafa de Ballantine's
Adamastor também 'tá bue intranquilo
Eu assimilo toda a tensão que ele propala
Faltam dez minutos 'pa subirmos ao palco
Passam os minutos mais o pânico se instala
Como é que o público irá reagir?
Será que vai ser aquele silêncio dramático?
Será que vão 'tar eufóricos, será que vão 'tar apáticos?
Será que vão 'tar vibrantes, será que vão ’tar estáticos?
Será que vão gritar por mim do início ao fim
’Tou aqui no camarim a viver este stress traumático
[Skit]
Amigo: Boy rebentaram o Chapa todo, dred, foda-se o gajo 'tá todo fodido
Valete: B, ’pera, 'pera, 'pera, mas quem?
Amigo: Foda-se 'pá aqueles gajos lá do bairro da Boavista, mano
Rebentaram o gajo completamente, o gajo ’tá no hospital e o caralho, mano foda-se
Valete: E esses gajos 'tão onde?
Amigo: Os gajos 'tão lá ao pé de Fonte Nova, yaa. Mas um gajo, já dei a dica nos tropas, man. O pessoal já 'tá reunido e o caraças não há stress, mano
Valete: Ya então 'tasse bem, um gajo 'tá aí no cubico apanha um gajo também
Amigo: Tass b, tass b, até já
[Verso 2]
Dois carros com cinco manos em cada um
No carro onde eu 'tou gira-se uma birra e um charro
Toda a gente exaltada, só eu em silêncio
Manos mixam medo e fúria, sentimento bizarro
Chegamos, avistamos os manos, saímos rápido dos carros
Com pose de Sicílianos
Esmurramos, pontapeamos os dois, ensanguentamos os gajos
Festival de violência insâno
Bue de ruído, bocas, narizes partidos, bue sangue escorrido
E os dois gajos estendidos
Voltamos para os carros, envaidecidos
Da barbaridade que tinhamos cometido, sem sentido
No carro, risos silênciavam os meus avisos
Que daqui a um dia seriamos nós os agredidos
Chegamos à Damaia, eu já 'tava mais que tenso
Propenso a pensar que agora é que o beef tinha implodido
Fui 'pa casa não consegui dormir
A noite toda a refletir o quão aquilo foi descabido
No dia seguinte fui ter com o 'craniano
Para comprar aquela barreta que ele me propusera
Agora vivo neste medo voraz, ando na rua sempre a olhar 'pa trás
Quando aparecerem eles virão tipo às centenas
Tipo hienas, prontos para fazer a merda mais obscena
E o que é que eu farei com esta arma?
Armar-me em gangster pa' evitar o karma?
Dar tiros aos niggas como se 'tivesse em LA?
Arrumar niggas como se não houvesse lei?
[Verso 3]
Quando ela era só minha amiga dizia
Que ele era a alquímia, magia que ela sonhara
Que a relação deles tinha uma cinergia rara
Aquele tipo de amor que nenhum tempo no mundo sara
Seis meses de namoro, intenso e ardente
E o sexo era sempre luminiscente e transcendente
Agora ela é minha namorada
Diz que 'tá enfeitiçada e o nosso amor é incandescente
Ela despe-me e diz-me que me ama
Olho nos olhos dela sinto-a soberana
Tirana vulnerável, tesão indomável
À espera que eu hoje seja incomparável na cama
Envolvo o meu corpo no corpo dela
Deitada, sinto-a frágil e singela
Aperto-a, penetro-a, liberto todo o afeto que tenho por ela
P'ra ela sentir a minha tutela
Ela entraga-se, navega na comoção, no mar de excitação
E no encaixe que nos atrela
Penso no ex-namorado dela
Nas noites de amor e ardor que ela contava
Será que consigo dar-lhe a mesma transcendência?
Será que consigo dar-lhe a mesma efervescência?
Será que consigo ser assim tão sublime
Fazer com que ela alucine através da minha veemência
Penso, o meu pénis murcha outra vez
Lá se vai toda a robustez e toda a magnificência
Ela fica frustrada mas finge que entende
Eu tento relaxar mas a tesão nao reacende
Ela abraça-me e diz-me que não há stress
Mais ela mostra compaixão, mas a excitação esmorece
O que é que ela 'tá a pensar de mim?
Que eu nunca chego ao fim, que o sexo é sempre assim, assim?
Que eu sou impotente, incapaz, sempre fogaz na performace
Ao contrário do ex dela que era um ás?
Que nunca lhe vou dar prazer como o ex namorado
Que lhe dava o céu estrelado e aquele sexo mordaz
Bastidores was written by Valete.
Bastidores was produced by DJ Glue.
Valete released Bastidores on Tue Jan 01 2013.