O dia nasceu
Mais cedo que eu esperava
E nem me deu tempo
De esconder a luz que entrava
A noite correu
Depressa demais
E nem fez questão de me avisar
Ainda dormia
No ar, aconchegado
Um cheiro tão doce
De um segredo bem guardado
Nem cara, nem nome
Nem voz, nem silêncio
Nem mesmo a lembrança de um recado
O corpo
A alma
Alguém os levou de mim
Sem medo
Com calma
Quem foi que me teve assim?
Sem marcas na cama
Nem cabelos na almofada
Nem traços de lama
No tapete da entrada
Nem copos vazios
Nem cigarros frios
Nem rasgos profundos na guitarra
Alguém me deixou
Voltar desamparado
Do fundo do sono
Num assalto ao beijo armado
Um crime perfeito
Sem ter um suspeito
Nem provas do tanto que roubou
Ferido de morte neste assalto
podia o tiro ser de amor!
Porque de amor já ninguém morre...
Só de um desejo matador!