Água

[Letra de "Água"]

[Verso 1]
Chovem sentimentos aqui dentro
Devem entrar pelas ranhuras
E quase sempre formam lagoas, demasiadamente profundas
É nelas que nado, sem ver para onde
Em águas densas, escuras
Trazem lixo acumulado
Não são belas, são imundas
Serão elas as palavras sujas com que tu me inundas?
Submerso eu, só o meu corpo está cheio de rugas
Num pedaço de madeira
Dás-me um braço para que suba
Se estamos os dois no mesmo barco
Como é que tu nunca te afundas?
Primeiro estão as intenções
E tu pareces ter sempre segundas
Quando me beijas, não me desejas
É a minha alma que sugas
Tiras a roupa e quando te deitas
Só a mim é que me usas
Ouço o teu coração a bater
E sei que algo não bate certo
É que o calor do meu amplexo
Não te aquece nem te arrefece
Ou vejo o que não existe em ti
Antagonicamente cego
Ou estás-me só a comer a cabeça
Para alimentares o teu ego
Tu nunca serás diferente
Eu serei sempre indiferente
Quando olho para trás
Percebo que as merdas estiveram sempre à minha frente
Nada disto é relativo
Porém tudo é concernente
Há que pôr um ponto final nisto
Em vez de ficar reticente

[Refrão]
Eu tenho que esquecer que tu existes
Mas nunca me atrevo
Sempre que me debrucei sobre o assunto
Caí no erro
Apetece-me berrar-te
O que não é nenhum segredo
Eu fiz planos contigo
Dei-lhes demasiado relevo
És como um precipício para onde salto
Porque cheguei ao extremo
E em poucos segundos, bati no fundo, previsivelmente
Contudo, levantei-me rapidamente
Caí, fui ao limite, e atirei-me novamente
Isto repetidamente

[Verso 2]
Eu peço-te que te sentes e peço-te o que tu sentes
Como se não estivesse já subjacente
O presente é consequente
Nunca foi só aparente
Se para ti sou invisível
É porque fui transparente
Já tu?
Completamente o oposto
Foste por onde te convinha
E não foste sozinha
Porque tu não és só minha
A nossa relação anda tóxica
Ou então para lá caminha
Nós não estamos no mesmo ponto
Nem sequer na mesma linha
Tu aclamas o teu afeto
Mas nunca ficas afectada
O que me dizes não tem nexo
Tu não tens sentido nada
A tua voz não me larga
O teu silêncio diz tudo
Eu sei que falas mal de mim pela calada
Tu já não estás sentada, e eu ainda estou sentido
E essa história mal contada
Deixou-me mais contido
Atende a merda da chamada
Há semanas que te ligo
Conto-as pelos dedos, sozinho
Nunca conto contigo
Acaba com esta relação
Que não tem meio de progredir
Já desde o início, tudo o que fazes tem um fim
Apesar de não ter nenhum princípio
Tens atitudes insólitas, mas num momento propício
E a única relação que há aqui
É o facto de tudo estar intrínseco
Consegues sempre o que queres
A próxima vez será só mais uma
Como é que ainda não desapareci
De tanto fazeres com que eu me encolha
Desapareces quando te apetece
Não sentes falta coisa nenhuma
E se de facto não te apercebes
Isso quer dizer alguma coisa

[Refrão]
Eu tenho que esquecer que tu existes
Mas nunca me atrevo
Sempre que me debrucei sobre o assunto
Caí no erro
Apetece-me berrar-te
O que não é nenhum segredo
Eu fiz planos contigo
Dei-lhes demasiado relevo
És como um precipício para onde salto
Porque cheguei ao extremo
E em poucos segundos, bati no fundo, previsivelmente
Contudo, levantei-me rapidamente
Caí, fui ao limite, e atirei-me novamente
Isto repetidamente

[Verso 3]
Tem que ser verdade
Tu vais cumprir
Desta vez, eu sei
Tem que ser verdade
Tu vais cumprir
Nem sinal
Ficou tarde
E eu aqui
Vou voltar para trás
Se em ti as palavras são
Como água
Se em ti as palavras são
Como água