A Cor Que Falta na Bandeira Brasileira

[Verso 1]
E ali estava ela, hasteada
Para que todos pudessem ver as suas cores radiantes
Simbolizando ordem e progresso
E aos redores grandes quilombos periféricos
Num lugar de guerreiros, cujo olhar vermelho
É pela liberdade entre terras e mares
Ó pátria amada, idolatrada, salvem-se, salve
E do passado que restou, é rubro terror
Como o vermelho de Xangô, a cor do amor
Que pulsa no coração, compassos de ódio e paixão
Esparramando sangue ao chão
Na eterna contradição de uma nação

[Verso 2]
Verde, amarelo, azul, branca e vermelha
São as cores que compõe a bandeira brasileira
Só que o vermelho não quiseram botar
É cor de sangue, é cor de morte, é cor de farsa
É todo sangue derramado nesses 500 anos
É toda a historia maquiavélica tramada nos nossos mocambos
A dominação de um fogo por ouro
Foram sofrimentos de um povo
Que foram se acabando aos poucos
Meus antepassados, indígenas, celebravam os deuses
Hoje me lembro que os índios são poucos
E só aparecem as vezes
Quando são queimados vivos em praça pública
Por uma raça sádica que faz um mal a sua cultura

[Verso 3]
Luta, resistência, traçar a vida são batalhas
A morte, o salvamento, Deus guiará suas almas
Eram das matas, eram dos cantos
Hoje os índios são poucos, mas que significam tanto
Isso é para quem sabe, para quem tem raiz
Porque sou índio, porque sou negro
Por isso sou feliz
Por ter esse sangue correndo nas veias
Por ter nascido de três raças, formada brasileira
Habitada por índios, construída por negros
Administrada por brancos
Era nobreza ser herdeiro
Era, era nada, era uma bandeira de gangues
Falta o vermelho derramado por eles
O vermelho do sangue

[Verso 4]
Eu não me esqueço, eu não me rendo
Foram muitos erros foram muitos lamentos
Que não há fortaleza que apague a dor do passado
Que não há receita que cura a dor da alma além da vida
A dor do laço, que foi amarrado nos açoites, nos arames farpados
Na triste dor da luta, como a triste dor do parto
Inevitável a lei da selva
O sangue das crianças nascidas na senzala
A dor da época

[Verso 5]
Se existiu um julgamento final ainda não foi divulgado
É, como sempre nesse país, está certo o errado
E se os assassinos serão julgados por Deus da mesma maneira
E se afogarão nesse sangue porque falta na bandeira brasileira