Valley Freestyle

Enquanto a noite cai eu vou trabalhando
A maioria sái e eu ‘tou nisto, mano
O encanto que me atrai vai-me baralhando
Na alegria que me dá e diz que tem um plano
Um plano... Lembras-te? Se calhar já não
Dificil é ver o céu mantendo os olhos no chão
Tento ser realista e ver as coisas como são:
Pontos de vista, não tivemos a mesma visão
Queria rimar com pressa e ver quem se aguenta
Passar a travessa e meter o game na ementa
Em noites na convеrsa a tentar ser quem tе orienta
No tempo da blind em que o grind era cinquenta-cinquenta
Fifty-Fifty, entre outras manobras
808 no estúdio, a vibe era de casa em obras
Pedi o prato mais caro, queriam dar-nos sobras
E acabei fat como um texugo a dar dentada em cobras
Porque afinal a meta vive é no contar da paka
E dão-te afectos mas com sorte é só pa te abraçar de faca
De um pedestal à queda livre ao estilo de arte sacra
Porque esse amor é forte e dura até dares parte fraca
'Tou mais distante mas ainda me lembro de onde vim
E da pergunta irritante "porque é que te pões assim?"
Eu sinto-me único, a terapeuta diz que há dois de mim
Então um brinde à nossa.. falamos depois do Gin
E estendo o brinde à familia que já não cabe em Trás-os-montes
Passa o Marão a voo pa’ ver novos horizontes
Tenho manos em Mainz, Paris, Varsóvia, Londres
E eu sei, pa’ m’aquecer também queimei pontes
São carvão com que escrevo
Tudo é mais claro numa folha A4
E devo estar errado, é que o sentimento que escolho é: grato
Dizem que é destino, isso eu não debato
Mesmo o que abomino aconteceu-me no momento exacto
Despertou talento inato e falta de humildade
Que nada se repita
Olhei a lei de lado e quem diria?
Ser castigado por dizer a verdade?
Queixa-te à Benedita, diz que eu falhei no ditado e siga
Vamos ver quem me ensina, bora
Curtia ver se a Joaquina me tocava agora
Tabuada salteada, toda logo assim na hora
Eu não me esqueço, sou é selectivo com a memória
Ya, é a sorte de uma Dezena
Ter aprendido a largar o passado e a agarrar a pena
My time is now, sempre em cena à John Cena
Só digo “xau” e se é p’ra ser então acena
Ou mando-te a tabela pa’ fazer a planta
Longe da novela, deixo actos serem grana
Por enquanto a vida é bela, enquanto a Édith canta
Hoje eu 'tou na Valley e vejo patos da varanda
Tenho o traço do Matisse a fazer o impossível
Há um ano atrás eu disse "quero ter um ano incrível"
E continuo motivado a não baixar o nível
Sou como tu, apenas um ser humano falível
Sensível apesar desta aparência de arrogante
É pa’ compensar, no fundo é como ser um anão gigante
Ouve o que digo, o meu silêncio é mais preocupante
Se eu não tiver à frente um céu imenso e cintilante
Vou vivendo a vida como aparece
Vou fazendo a música que me apetece
O love cresce e tenho os fãs que peço
Na verdade bastam dez que sintam cada verso
Cabeça aquece e é normal que o começo demore
Eu reconheço: é na cabina onde eu penso melhor
E nunca passo a street shit onde o preço é maior
Com lucro legit pa’ não acabar preso ou pior
Mas amigos e moral, se a vida aperta, tem-se menos
Se a boca engana, o teu olhar aponta quando mentes
Claro que o ideal é guita certa, vê se entendes:
Não quero a fama, eu quero a conta do Fernando Mendes
Eu sou underground, brother, mesmo após mudar de piso
Sem discussão, agora a voz só dar lugar ao riso
Muitos dizem que são, vê se há verdade nisso
Têm mic, têm sound, mas falta o que é preciso
Não importa quem diz “tu pára, não consegues”
Tu corre até que possas ter um fundo em bags
Corta o mal pela raiz, vê quanto fruto perdes
Quantos são famosos por ter google ads?
É raro haver noção pa’ que agrade sem numeral
Pa’ tantos é função da qualidade a que equivale
É muita promoção, pa’ vender 'tão a gastá-lo
Faz o scroll down e tu já vais ver do que eu te falo