Guernica

Dou por mim a escrever um devaneio propositado
Debruçado num caderno onde me espelho cansado
De um país deprimido agarrado ao seu passado
O canto entristecido revela-se o nosso fado

Mundo dividido, cada qual vai para seu lado
Ninguém acredita que talvez um dia mude
Um povo amargurado, isolado e conformado
Nunca evolui sem mudar a sua atitude

Estéreis, sem vontade, nunca vi nada pior...
Reclamar liberdade em casa eu sei que é bem melhor
Confiança e guito é crime, tornas-te alvo maior
O foco é a estrela em queda, é um estado laico-Belchior

Guernica é o emblema, resistência é o lema
Se o underground abana o sistema sente o problema
A intervenção recruta, radicalizem o tema
Palavras são armas, faltam Valetes na cena

Aqui estou contra quem conta contos e os conta ao contrário
Ou ganha do que eu desconto, ou a pôr pontos faz um salário
Escolhem as melhores notícias pro noticiário
Horas de Benfica pra comer mais um otário

Que se foda illuminatis e Paulos Paratys
É altura de apagar paredes e aguçar lápis
Pedras e cartazes na marcha contra o canhão
Cantar o hino que o menino Dino quer mandar ao chão

Perdoam aos milhões ladrões habituais
E eu perco o subsídio por ter feito alguns tostões
Calcam multidões com intenções pessoais
Revolta demais, canções viram refúgios mentais

Na era do milhão estás no lado explorado
Na era da informação, no lado desinformado
O tempo passa, o futuro já virou o passado
E sempre que é para gritar fomos o lado mais calado

Yin-yang não erra, sem verde o vermelho berra
É o sangue derramado nas batalhas que sobra
Dividem a gera "Qual o género que mais erra?"
Até te ferras na tua guerra, enquanto roubam noutra obra

Escrevo por mudança, não vês que nos têm na mão?
Emprego tens em França se quiseres ganhar mais pão
Deixam-nos sem esperança, o lado verde do brasão
Sonhos comandam vidas mas sem esperança eles lá vão

E eu sonho, sonho tanto, dá-me razão para lutar
Uma vida sem motivo é andar por cá a pastar
Tudo isto revoltou-me e bloqueou-me para rimar
Mas sai cru quando a revolta é a fonte para me inspirar

Ministro inspira falsidade, mentir é a nova verdade
Sinistro o que passa na TV...
Essa escumalha quer palmas, falta abril nas nossas almas
Para mandá-los com o caralho, tem que começar por ti!

(Outro)
Reina o comer e calar, pobre de quem falar
Sinto-me impotente, mano, fácil de oprimir
Sonho em saltar, sozinho não vou planar
Nunca me mostraram outra forma de fugir
(x2)