H(ipop)

[Verso 1]
Mais uma "jam" a gravar a minha voz
Que ainda me soa mal
Porque para mim só estoura
A ver o Sam boquiaberto como nós
No palco principal
Do Paredes de Coura
Não te prometo a saída nem o flow nunca visto
Sem notar, sou Duracell e
Insisto, insisto, insisto...
Invisto tempo nisto
Sem saber o que fazer, tipo Sir Scratch
Não tenho nada a perder
258, O meu povo, o meu mecenas
É como qualquer um, não és tu que o ordenas
E num distrito de aldeias
E capitais mais pequenas do Matuu
O Ré Menor já trouxe nomes às dezenas
Ainda se dão mixtapes
Mas sem se ver a k7
E o Mandruga já virou Valete
Para mim já deslorou, tu queres ver se floresce
Não me iludo, já vi Cruzfader a tocar para menos de 10

[Refrão x2]
Sei que os há
Que ouviram os meus sonhos
Sem que por sério me tomem
A partir de hoje sou H
A letra que não se lê
Mas que dá a grandeza ao homem

[Verso 2]
E é na água salgada que me escorre pela face que me escondo
Quando nada faz com que isso passe
Não há classe na poesia
Já se dizia, dilema das artes, matéria da fantasia
Papéis cá em casa, resumos de Filosofia
Que na ausência da luz
O rap te faz companhia
Estrada fora, casa dentro, quilómetros de rodagem
Para quem está no movimento
Tudo dá longa metragem
Todos conhecem a métrica
A poética é comum
Se hoje há muitos sabedores
Guru só havia um
Confunde-me a lei do bairro
Lei do bloco, lei da telha
O que para mim foi nova escola
Hoje já cai de tão velha
Mas estou pronto para furtos
Não trago valores materiais
E os bolsos estão curtos
Digo-te que venho em paz
E é para isso que te alarmas
Se todos dermos as mãos
Quem vai disparar as armas?

[Refrão x2]
Sei que os há
Que ouviram os meus sonhos
Sem que por sério me tomem
A partir de hoje sou H
A letra que não se lê
Mas que dá a grandeza ao homem

[Verso 3]
Sei que tu sabes
Que a mensagem é como a rua
Eu tenho a minha, tu tens a tua
Venho partilhar a minha
Porque a vida continua
E é a memória coletiva que no som se perpetua
Se mentes dissidentes, batem com a língua nos dentes
Captam e sintonizam por canais diferentes
Não há regras nem leis
Já ouvias aos 16
Adivinhas que esta rima acaba nos meus papéis
Isto são crenças
Não é uma religião
E preferências, só me abrem leque de opção
Dou chance a todos, alimento-me pela audição
Já tive enjoos, mas isto virou paixão
Alistado na região, ingressei no movimento
E o que digo é local e global ao mesmo tempo
Imagina que o mundo é feito de palavras
E nesse mundo o rap é o meio em que viajavas
Os destinos que encontravas, os teus medos e amores
Eu vejo o mundo redigido por consciencializadores
Se a sociedade é como um leque fechado
Este som é pé de cabra
Que to deixa escancarado
É uma rede, eu trago-a para a minha sede
Entre a espada e a parede
Estamos no meio de extremos
E adoro a diversidade, é mais do que variedade
É afirmar a liberdade
Que dentro do rap temos

[Refrão x2]
Sei que os há
Que ouviram os meus sonhos
Sem que por sério me tomem
A partir de hoje sou H
A letra que não se lê
Mas que dá a grandeza ao homem