Caldeirão Dos Mitos

[Letras de "Caldeirão Dos Mitos" com Elba Ramalho]

[Intro]
Eu vi o céu à meia-noite
Se avermelhando num clarão
Como o incêndio anunciado
No Apocalipse de São João
Porém não era nada disso
Era um corisco, era um lampião

[Verso 1]
Eu vi um risco nos espaços
Era o revoo de um sanhaçu
Eu vi o dia amanhecendo
No ronco do maracatu
Não era a lança de São Jorge
Era o espinho do mandacaru

[Verso 3]
Vi um profeta conduzindo
Pros arraias as multidões
Pra construir um chão sagrado
Com espingardas e facões
Não foi Moisés na Palestina
Foi Conselheiro andando nos sertões

[Verso 4]
Eu vi um som na escadaria
Dó-re-mi-fá sol-lá-si-dó
Não era o eco das trombetas
De Josué em Jericó
Era um fole de oito baixo
A tocar numa noite de forró

[Intermezzo]

[Verso 5]
Vi um magrelo amarelado
Passando a perna no patrão
Não foi ninguém da Inglaterra
Nem de Paris, nem do Japão
Era o Pedro Malazarte, era João Grilo
E era Cancão

[Verso 6]
Ouvi um som ao meio-dia
No meio do chão do Ceará
Não era o coro dos arcanjos
Nem era a voz de Jeová
Era uma cascavel armando o bote
Balançando o maracá

[Verso 7]
Vi uma mão fazer no barro
Um homem forte, um homem nu
Um homem branco como eu
Um homem preto como tu
Porém não foi a mão de Deus
Foi Vitalino de Caruaru
Porém não foi a mão de Deus
Foi Vitalino de Caruaru
Porém não foi a mão de Deus
Foi Vitalino de Caruaru

[Outro]
Segura o fole Abdias
Deixa a poeira subir
Que desse jeito eu vou até amanhã de manhã
Ô meus Deus, uh-huh
Vish Maria, ô menino, rochedo
Agarradinho desse jeito não
Yuh-huh