[Verso 1]
Quatro e meia da manhã hora de levantar
Calor, chuva ou frio tem que trabalhar
Trancam os filhos em casa pra não correrem perigo
Ou trabalham juntos neste paraíso
Dez ou doze horas ganhadas com muito suor
E você acha que é só? Não!
[Verso 2]
A batalha mais triste no seu território
Que, infelizmente, fica em frente ao seu dormitório
Não vá pensando que a vida desses pobres coitados
De repente se transforma em um mar de rosas
E quando será que os relógios da vergonha e da justiça
Irão acertar as horas, enquanto deste lado
Puxamos o barco sem sair do lugar
Outro lado de braços abertos fica à esperar
Que os ponteiros se acertem e dêem a hora certa
E melhorem a vida dessa brava gente da favela
[Refrão]
Que horas são ? Não sei responder
Que horas são ? Pra que você quer saber?
Provavelmente a hora não vai estar certa
Pra poder melhorar a vida dessa brava gente da favela
Que sempre espera e não desespera
Vive atado, amarrado, vida longa pra quimera
Enganados cara a cara como sempre
Sem saídas eminentes
Falo pro meu povo, falo da minha gente
Falo da minha terra, brava, brava gente
Anos de trabalho sem reconhecimento
Anos e anos de luta e sofrimento
E no final eles querem sossego e só
[Verso 3]
E lhes negam 147 % do seu suor
Se chove ninguém consegue dormir
Porque a qualquer momento a casa pode cair
A mãe olha para o filho e reclama
Lá fora tá chovendo e ele sujou o pé na lama
Ela corre tranca portas e janelas
Pois está ouvindo os tiros
Pai diz que na esquina tem jornais clareados à vela
Essa é a vida rotineira dessa brava gente da favela
Que horas são ? Não sei responder
Que horas são ? Pra que você quer saber?
Provavelmente a hora não vai estar certa
Pra poder melhorar a vida dessa brava gente da favela
[Verso 4]
Que sempre espera e não desespera
Vive atado, amarrado, vida longa pra quimera
Enganados cara a cara como sempre
Isso já não nos surpreende
Refrão
Às quatro e meia é obrigado a acordar
E mesmo assim vai trabalhar
E mesmo assim tem que batalhar
Às vezes vai a pé, às vezes nem vai
[Verso 5]
Busão lotado, cuidado com a marmita pra não amassar
Eu faço isso tudo isso porque sou muito pobre
Mas eu tenho fé que isso há de mudar
Quando os relógios conseguirem se acertar
Trazendo a esperança, trazendo alegria
Trazendo a bondade, paz e harmonia
Deus nosso pai é senhor do tempo
Deus nosso pai é senhor do tempo
E o homem também diz:
Favela é onde moram pessoas com dignidade
Suas crianças sem rumo observam o mundo
Criam alternativas maneiras de agarrar a liberdade
[Verso 6]
Até que um dia com orgulho encontre o seu prumo
Ligamos a TV, e vemos tudo em branco e preto
A vergonha e a justiça cobertas com um manto
Mas não um manto divino como vocês pensam
E sim dos hipócritas que nos argumentam
Existem códigos de tudo que se possa ter
E a cada dia nasce outro, isso nos impressiona
E nós também, temos um código que faz temer
É o código do silêncio, este sim funciona
Nas favelas nascemos com a educação
Já os ricos imundos com a discriminação
Não me entendam mau quando eu cito os ricos imundos
[Verso 7]
Essa mensagem é só pra quem a carapuça servir
E quando eu digo favelas não é só pros favelados
É também pros mendigos e injustiçados
Que dia e noite, noite e dia imaginam
Uma vida diferente como seria
Infelizmente os relógios sempre se atrasam
Não tem jeito deles darem uma hora certa
Digo isso sem apelo e muita coragem
Porque sou fruto e faço parte
Dessa brava gente da favela
[Refrão]
Que horas são ? Não sei responder
Que horas são ? Pra que você quer saber ?
Provavelmente a hora não vai estar certa
Pra poder melhorar a vida dessa brava gente da favela
Que sempre espera e não desespera
Vive atado, amarrado, vida longa pra quimera
Enganados cara a cara como sempre
Isso já não nos surpreende