Chico da Tina é uma reacção performática- ora alérgica, ora doce- a todo um contexto que constitui o entorno da vida deste nosso poeta [e leia-se aqui palavra com toda a sua abrangência tendo para isso presente a sua raiz grega]. Ou seja, o enquadramento vital do nosso artista (sempre em mudança é certo) é o responsável por esta reacção performática que ganha contornos musicais, teatrais, pictóricos e para abreviá-lo numa só palavra: artísticos.
Afim de levarmos a bom porto esta nossa curta investigação que pretende ser meramente um esboçar de circunstâncias, torna-se então forçoso delimitar os traços estruturais desse enquadramento referencial. Só desta maneira estamos em condições de compreender melhor o modo como a expressão artística Tiniana irrompe e ganha sentido.
Primeiramente há na memória um Alto Minho, uma bacia do Lima minada de diversas localidades, temperaturas, paisagens e rostos que perfazem um passado mnésico e nostálgico que serão um dos pilares basilares da obra em foco. Mas este universo bucólico e pastoril minhoto que o poeta Diogo Bernardes maioritariamente no séc.XVI dera já testemunho com sua pena de ouro seria, em pleno séc.XXI, insuficiente.
Isto porque a orientar a vida presente do nosso artista está agora uma experiência globalizante de abertura ao mundo e às suas produções artísticas nas suas mais variadas formas. É nesta fricção entre passado e presente, entre tradição e mudança, aldeia e cidade, associada a uma crise de valores tão típica da nossa geração despojada já dos dogmas religiosos passados (que se mostram incapazes de provocar o seu assentimento) e por outro lado sem nenhum substituto para esse divino lenitivo que nasce a ironia a agressividade o sarcasmo assim como uma exaltação e apologia hedonista que são aqui sintomáticos dos danos causados por este extravio existencial.
São o resultado de quem está consciente e vive perturbado por não saber “como viver” e que à falta de resposta grita para a sociedade onde está inserido que também esta “não o sabe” ainda que toda ela actue como se o soubesse, cobrindo-se para isso de respeitosas representações e demais parcimónias.
E de igual maneira com o hedonismo pois como dizia já Woody Allen, «ainda que com todos os seus sofrimentos o mundo é ainda o melhor lugar para a gente saborear um bom bife», assim, à falta de melhor, divertamo-nos pelo menos.
Todo este diagnóstico está aberto a debate e haverá certamente muita coisa que não foi dita, tanto por economia de espaço (não é minha intenção enfadar aqui o leitor com um estudo ostensivo) como por ignorância e incapacidade minha. É, não obstante, meu almejo que o dito ainda que na sua escassez traga um pouco de luz ao meu amigo leitor.
O prof. Manuel Dantas
http://www.chicodatina.com
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